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Manter-se equilibrada na linha de tiro do Fla-Flu nacional. Coxinhas versus petralhas. Amigos bloqueando amigos nas redes sociais: quem discorda de mim, está contra mim. Ser razoável é quase um pensamento mágico. Parece que a maioria virou bispo apontando o dedo para os pecadores. Curiosamente os pecados são sempre alheios.
Por Fernanda Pompeu, do Yahoo
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Marcar e fazer acontecer encontros físicos com alguém. Encontros cara a cara, olho no olho, pessoa a pessoa andam em falta no mercado de cada um. Agora a gente diz: Fulano é meu amigo, do Face. Isso significa (em alguns casos) desobrigar-se da melhor coisa entre amigos, as experiências em comum.
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Ser capaz de expressar ideias próprias. Livres pensadores sumiram da praça. Hoje muita gente só arrisca uma opinião se houver uma legião por trás. Pouco importa se a fonte é uma filósofa ou um cantor. Importa o número de curtidas que a ideia ou comentário ganhem. Fica tudo entre iguais, numa confraria de pares.
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Escolher viver de música, literatura, artesanato, bolos pra aniversários é coisa de mágicos. Aos vinte anos, quando disse para minha vó Cosette que desejava ser escritora, ela apertou os olhinhos, levou as duas mãos à cabeça e vociferou: Tá maluca! Quer morrer de fome? Maluca até sou, mas não passo fome. Ao contrário, preciso até fazer dieta.
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Resistir ao best-seller dos hábitos, esse de trocar seis por meia dúzia. Comprar um celular novo porque o fabricante acrescentou ao aparelho diferentes tons de rímel e batom. Doar sapatos velhos e correr para o shopping. Condenar refrigerantes, mas beber a versão diet. Terminar com o namorado possessivo e arranjar outro, possessivo também.
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Saber que vai morrer e mesmo assim pular da cama todas as manhãs é o mais difícil dos truques. Há os que conseguem, além de pular da cama, dar bom dia sorrindo. E outros que falam do fim com humor. Exemplo, o multiartista Millôr Fernandes (1923-2012). Perguntado o que achava da morte, respondeu taxativo: Sou contra.
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Observar o mundo, interagir com pessoas conhecidas e desconhecidas e tentar traduzir tal aventura em palavras. Depois postar tudo nas areias da internet. Aí sopra o vento – ele sempre sopra – e põe o que escrevemos faz meia hora no passado infinito. Apesar disso, não desistir. Voltar a fazer e a fazer.
imagem: Régine Ferrandis