Mais 1,34 milhão de pessoas se autodefinem de cor preta

Participação sobe de 6,3% para 6,9%; especialistas vêem influência de ações afirmativas

IBGE afirma que mais pessoas passaram a assumir a própria cor; população de cor branca passa de 49,9% em 2005 para 49,7% em 2006

Fonte: Folhapress data: 15/09/2007

A população negra começa a ganhar mais visibilidade nas estatísticas oficiais em um período em que se ampliaram as políticas públicas de ação afirmativa, destinadas, em tese, a promover maior eqüidade racial. Dados da Pnad mostram que o número de pessoas que se declaram de cor preta cresceu em 1,34 milhão de 2005 para 2006. Na prática, a população de cor preta passou de 11,5 milhões de pessoas para 12,9 milhões.

A pesquisa do IBGE mostra que, em 2006, as pessoas de cor preta começaram a “sair do armário”, como definiu uma especialista. O instituto afirma que uma das explicações possíveis é que mais pessoas estejam assumindo a própria cor. Com isso, a participação da população de cor preta no país aumentou de 6,3% em 2005 para 6,9% no ano passado.

A participação das pessoas de cor parda na população caiu de 43,2% para 42,6%, o que confirma a tese de que houve uma migração de pessoas que se declaravam pardas para o grupo dos que se declaram pretos.

Para o cantor Martinho da Vila, o número ainda não reflete a realidade da população, mas a tendência é de aumento porque as pessoas já estão se sentindo “mais confortáveis” para assumir a própria cor.

“No passado, muitas pessoas que se diziam de cor parda não se assumiam como negras porque o negro era malvisto. Com as ações de vários segmentos do movimento negro, a gente botou na cabeça desse pessoal pardo que nós somos vistos como negros de qualquer maneira. Temos mais é que nos assumir. O armário dos morenos que ainda se dizem brancos é muito maior”, disse.

Para o ministro interino da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Martvs Alves das Chagas, o aumento é resultado da implantação das ações afirmativas no país. “Antes, havia muita dificuldade para debater o tema. O que o movimento negro diz é que as pessoas não precisam mais esconder o que são.”

Na avaliação da antropóloga Yvonne Maggie da UFRJ, ainda não é possível definir as causas do aumento da autodeclaração de pessoas de cor preta. Ela destacou que o percentual de pessoas que se declaram pretas ainda é pequeno. Contrária à política de cotas, ela afirma que uma das hipóteses é que as ações afirmativas tenham contribuído para o aumento de um ano para o outro. “As políticas que reforçam as identidades estão sendo criticadas no mundo inteiro porque elas produziram mais dor do que alívio. A identidade é uma coisa construída e tem como objetivo dividir o povo. Costumávamos nos ver como brasileiros”, disse.

A população de cor branca perdeu participação e passou de 49,9% em 2005 para 49,7% em 2006. No Sul, a população branca chega a 79,6%, e, no Norte, a parcela é de 23,9%.

Para Marcelo Paixão, economista da UFRJ e coordenador do Observatório Afrobrasileiro, as mudanças detectadas na pesquisa desde a edição de 2005 são históricas. “Se considerarmos que indicadores demográficos mudam pouco porque envolvem crescimento da população, migração, taxa de fecundidade, que, no caso da população negra é maior do que a branca, os dados representam uma mudança de percepção da população, é uma resposta.”

Em termos percentuais, a população de cor preta da região Norte foi a que mais cresceu em 2006: passou de 3,8% para 6,2%, seguida pelo Nordeste, onde o percentual passou de 7,0% para 7,8%. No Sudeste, a participação passou de 7,2% para 7,7% da população.

+ sobre o tema

A meritocracia é um mito que alimenta as desigualdades, diz Sidney Chalhoub

Para historiador da Unicamp e de Harvard, a Universidade...

Tecnomacumba, 20 anos de axé!

Quando assisti Tecnomacumba pela primeira vez, Ribeiro ainda era o sobrenome...

Profetas do Caos

No seminário Multiculturalismo e Racismo: O Papel da...

Ministério Público processa Globo por racismo

A emissora irá responder por danos morais coletivo e,...

para lembrar

Sem Justiça não há paz

Sem justiça não há paz. por Marcos Romão no MamaPress O racismo...

Justiça libera venda e Clippers passa a ter novo dono

A NBA confirmou a compra da franquia pelo empresário...
spot_imgspot_img

Os homens que não rompem com a lógica machista

Como uma mulher crítica às plataformas de redes sociais e seus usos, penso ser fundamental termos compromisso e responsabilidade ao falarmos de certos casos....

Cinco mulheres quilombolas foram mortas desde caso Mãe Bernadete, diz pesquisa

Cinco mulheres quilombolas foram mortas no Brasil desde o assassinato de Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, em agosto do ano passado. Ela era uma das...

Independência forjou nação, mas Brasil mantém lugares sociais de quem manda

Em pleno dia em que celebramos a independência do Brasil, vale questionarmos: quem somos enquanto nação? A quem cabe algum direito de fazer do...
-+=