Mais de 120 anos depois da abolição da escravatura, afrodescendentes ainda têm acesso limitado à saúde

Dados do Ministério da Saúde revelam que o número de casos de AIDS no Brasil caiu menos para os negros do que para os brancos.

Felipe de Oliveira 

Lá se vão 123 anos da abolição da escravatura no Brasil. Em 13 de maio de 1988, a princesa Isabel assina a Lei Áurea. Legalmente, brancos e negros passam a ter os mesmos direitos.

Em 2011, no entanto, os efeitos do preceito que hoje é constitucional – igualdade racial – parecem estar longe de ser uma realidade. Dados do Ministério da Saúde revelam que nos últimos anos, no que diz respeito à AIDS, os afrodescendentes tiveram menos acesso aos serviços de saúde.

Segundo o levantamento, entre 2000 e 2009, o número de casos da doença, quando analisado apenas os relativos aos brancos, caiu de 62,9% para 54,8%, entre os homens, e de 60% para 53,1%, entre mulheres. Já entre os homens negros o número diminuiu apenas de 10,1% para 9,8%. Em relação às mulheres negras, o índice subiu de 11,5% para 13,2%.

O número de casos de AIDS entre a população parda também cresceu. Em 2000, os homens somavam 25,7% dos casos notificados e as mulheres 27,4%. Em 2009, o índice entre os homens chegou a 35% e entre as mulheres a 33%.

Racismo institucionalizado

ainda é um dos problemas

No ano passado, a cidade de Campinas, interior de São Paulo, recebeu o I Simpósio Nacional de Saúde na População Negra e HIV/AIDS. O evento mostrou que a vulnerabilidade social a que os negros estão acometidos dificulta o acesso deles ao diagnóstico e ao tratamento.

Para Mário Lisboa Theodoro (foto), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, é preciso acabar com o racismo institucionalizado. “Esse é o grande desafio. O racismo faz com que a saúde deixe de ser universal porque dificulta o acesso a ela e influencia no esquema de atenção que a pessoa terá”, explica.

Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas mostra que os negros tomam conhecimento do diagnóstico positivo para o HIV mais tarde que os brancos. Enquanto o negro se descobre com o vírus em situações clínicas complicadas e emergenciais, com o branco o diagnóstico é realizado por meio de serviços especializados ou particulares. O branco teria, portanto, mais acesso à informação e à saúde.

Com informações de Agência de Notícias da AIDS

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