Discussão sobre o racismo e a aceitação da sociedade pautaram encontro.
Também houve debates e apresentações de maracatu e coco de roda.
Homens, mulheres e crianças se reuniram na tarde deste domingo (13) na Praça do Derby, região central do Recife, para discutir e pedir o fim dos preconceitos de gênero e racial, na Marcha do Empoderamento Negro. De acordo com uma das organizadoras do evento, Nathalia Rocha, 25 anos, o objetivo é conscientizar a população negra e quem se interessar a debater o racismo.
“Somos diferentes, cada pessoa tem sua particularidade. É contraditório esse discurso que vivemos numa democracia social e racial”, disse. Com apresentações de maracatu e coco de roda, a caminhada segue até o Marco Zero, no Bairro do Recife.
A agente socioeducativa Gisele Labislau, 32 anos, levou os três filhos para o encontro. “Vão crescer sabendo se expressar. Quando saí de casa conversei com eles dizendo que não íamos para mais um passeio, e sim fazer parte da história”, contou rodeada de Lemam, de 8 anos, Miguel, 6, e Dandara, 4.
Gisele ainda relatou que gostaria de ter crescido em um ambiente doméstico que proporcionasse essa consciência. “Eu sou negra e minhas irmãs são negras, mas minha mãe, que também era negra, alisava meu cabelo, apertava a cartilagem do meu nariz para afilá-lo e dizia que minha cor era canela. Hoje, só eu aceito quem eu sou”, completou.
Ainda pequeno, mas já com um histórico de bullying, Lemam relembrou que era agredido na escola. “Meus colegas tinham preconceito comigo, me batiam só porque sou negro e do candomblé. As pessoas acham que estão me ferindo, mas, na verdade, estão ferindo a si próprias por machucar um semelhante”. Em certo momento, o menino tímido se levantou e discursou sobre a importância da autoafirmação. “Nós temos direitos e devemos saber quais são”, levando várias presentes às lágrimas.
Um dos emocionados, Joeb Andrade, 20 anos, estudante, comentou que as crianças devem aprender a se defender de qualquer tipo de preconceito. “São muito novas e, às vezes, não sabem como se comportar ou responder a uma ofensa. Eu sou negro e gay, convivi com isso por anos sem me aceitar e me enxergar como tal. A sociedade exigia o estigma do negão viril”, desabafou.
Há oito meses Rayza Oliveira, de 23 anos, resolveu vender produtos de beleza para as mulheres negras nas redes sociais. Ela informou que a procura por esse segmento tem crescido nos últimos dois anos, mas só recentemente que as empresas de cosméticos começaram a acompanhar esse mercado. “Quando mudei meu visual há oito anos, deixando meu cabelo crespo crescer e colocando turbante, isso era quase inexistente. Agora que começamos a entender quem somos e de onde viemos”, contou.
Seguindo essa cultura de valorizar a estética negra, a vendedora Nathalia Santos, 25 anos, se diz uma autêntica vaidosa e que demorou a aceitar suas características. “O preconceito começa em nós mesmos. Eu alisava o cabelo direto até um dia que ele começou a quebrar. Por causa disso resolvi usar o afro. O que começou como uma imposição, hoje é quem sou”, relatou, ainda dizendo que está sempre tentando seguir as tendências do mundo fashion negro. “Adoro ir em uma loja e comprar vários tecidos lindos e amarrá-los de jeitos diferentes”, finalizou.