Melhor, senhor presidente, que os índios se pareçam cada vez menos conosco

É paradoxal que o presidente brasileiro afirme que os índios estão começando a se humanizar quando somos nós que estamos esquecendo de onde viemos

por JUAN ARIAS, do El País 

Crianças da etnia Xikrin tomam banho no rio Bacaja, em uma área de proteção ambiental na Amazônia, em outubro de 2019.FERNANDO BIZERRA / EFE

O presidente Bolsonaro, em uma frase infeliz e ofensiva aos indígenas, disse que “o índio está evoluindo e cada vez mais é um ser humano igual a nós”. A pergunta que deveríamos fazer, ao contrário, é se não seríamos nós que estaríamos nos tornando cada vez menos humanos e querendo que eles se desumanizem.

A afirmação do presidente Bolsonaro carrega o preconceito de que os índios ainda não são seres humanos como nós e que somente abraçando nossa modernidade, nossa fúria de destruidores e consumistas compulsivos, serão humanos completos em nossas cidades de cimento.

É paradoxal que o presidente brasileiro afirme que os índios estão começando a se humanizar quando todos os antropólogos e filósofos dizem que a crise do Homo sapiens consiste em que somos nós, e não os indígenas, que estamos esquecendo de onde viemos. Isso por termos abandonado nossas raízes naturais, as que nos conectam com a natureza, para nos tornarmos robôs e feixes de fios elétricos.

 

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