No dia em que as mortes da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes completam mil dias, a irmã da vítima, Anielle Franco, anuncia um novo projeto para manter vivas a memória e a luta da parlamentar. No ano que vem, ela pretende criar a Escola Marielle, destinada a jovens pretas, moradoras de favelas. A ideia é apresentar a elas o trabalho de intelectuais e ativistas negras, como Angela Davis e Sueli Carneiro, a escritora Conceição Evaristo, a antropóloga Lélia Gonzalez, entre outras. Todas, diz Anielle, referências na luta feminista e antirracista.
— As mulheres pretas de favela têm que entender sua história. Isso ajuda a moldar sonhos, além de incentivá-las a estudar. Esse é o legado da minha irmã. São sementes que serão plantadas, valorizando a cultura de seus ancestrais —explica Anielle, diretora do Instituto Marielle Franco.
Segundo Anielle, até o fim deste ano será definido o número de alunas da Escola Marielle. Por causa da pandemia do coronavírus, é possível que os trabalhos comecem com aulas on-line.
Enquanto Anielle foca no legado de Marielle, Agatha Arnaus Reis, viúva de Anderson Gomes, aplica sua energia no bem-estar do filho Arthur, de 4 anos e sete meses. O pequeno, que nasceu com má-formação e depende de cuidados especiais, está aprendendo a andar. O menino tinha um ano e dez meses quando perdeu o pai, em 14 de março de 2018.
— Arthur é idêntico ao pai (Anderson). Esses dias, ele fez um som, como se limpasse a garganta, que o Anderson fazia. Ele me deixou impressionada, pois não foi algo ensinado — diz Agatha, que não esconde como tem sido difícil viver sem o marido. —Nós tivemos que reaprender a viver. Tudo o que fizemos, fizemos pela primeira vez sem ele e, a cada primeira vez, doeu muito. Sempre me vem ainda em pensamento: “Anderson adoraria isso, estaria rindo disso, falando tal coisa” — diz.
Para Mônica Benício, viúva de Marielle que foi eleita vereadora, os mil dias também são uma data difícil. Nos últimos dias, ela voltou para o divã.
— Essas datas mexem comigo. Todo dia 14, um mês, um ano, mil dias. Tinha largado a terapeuta que tratava de mim na época da morte de Marielle, mas voltei hoje. Eu já não sei o que dói mais: se é viver sem ela ou ficar sem respostas, sem a justiça.