‘Minha vida acabou’, diz viúvo de mulher morta por motociclista em GO

Ela foi baleada ao buscar os filhos na escola em fevereiro, em Goiânia.
Força-tarefa da Polícia Civil investiga 18 crimes, sendo 15 contra mulheres.

Seis meses após o assassinato de Lílian Sissi, 28 anos, o marido dela, o mecânico Carlos Eduardo Valczak ainda não tem informações sobre quem cometeu o crime, em Goiânia. O caso dela é um dos 15 homicídios contra mulheres investigados pela força-tarefa da Polícia Civil, que apura a existência de um suposto assassino em série na capital. Ela foi morta no dia 2 de fevereiro por um motociclista, quando ia buscar os filhos, de 10 e 6 anos, na escola, no Setor Cidade Jardim.

“Minha vida acabou. O que me segura são os meus filhos, não durmo nem como direito, perdi emprego que tinha na época por causa disso, emagreci 11 kg. Para mim está sendo difícil demais da conta, eu não sei o que faço. Nós estávamos a onze anos juntos”, lamenta o mecânico, muito abalado.

Câmeras de segurança registraram o momento em que ela foi baleada por um motociclista, que estava vestido de preto e usava capacete da mesma cor (veja vídeo abaixo). Ele para no meio do cruzamento, espera a vítima se aproximar, desce do veículo, chega perto dela e dá um tiro no peito. O suspeito foge em seguida sem levar nada.

Sem respostas
Carlos conta que falou com Lílian dez minutos antes de ela ser assassinada. Ele quem deveria ir buscar as crianças na escola. “Eu falei: ‘Não, deixa que eu busco os meninos hoje, só que eu estava lotado de serviço. Aí, ela falou: Não, eu estou trocando de roupa, vou buscar, aí passa vinte minutos recebi a notícia”, se recorda o marido da vítima.

O marido afirma que não havia motivos para ela ser executada. Ele garante que Lílian não tinha desentendimento com ninguém nem envolvimento com tráfico de drogas. “Ela é 100% inocente. Não tinha passagens pela polícia, não usava droga, não tinha amante, não tem nada. Não foi briga dela e não foi briga minha”, afirma Carlos.

A falta de informações aumenta a angústia da família. Eles acreditam que o crime foi cometido pela mesma pessoa dos demais homicídios contra mulheres na capital. “A gente vai na delegacia, as respostas são sempre as mesmas, que não tem pista, não tem suspeito e que estão investigando. Mas já mataram 15. Que investigação é essa? Se eu pudesse, eu ia atrás”, disse o marido da vítima.

Sogra de Lílian, a aposentada Elaine Aparecida dos Santos conta que o filho chegou a ser considerado suspeito de cometer o crime. “Ele entrou e ainda está em depressão, chegou a falar de suicídio”, lamenta.Elaine conta que os netos ficaram muito abalados após a morte da mãe. “Eles são crianças tristes, pedem para fazer comida igual à da mãe. Acabou com a estrutura da família”, afirma a sogra de Lílian.Força-tarefa
Uma força-tarefa da Polícia Civil investiga 18 casos ocorridos neste ano em Goiânia. Entre eles estão as mortes de 15 mulheres, a de um homem e duas tentativas de homicídios de vítimas do sexo feminino.O primeiro deles ocorreu em 18 de janeiro, quando uma adolescente de 14 anos foi executada por homens em uma motocicleta, no Setor Lorena Park, na capital. Na época, a polícia informou que eles roubaram o celular da vítima e fugiram. Na ordem cronológica, o homicídio de Lílian foi o terceiro a ser cometido.Participam do grupo de investigação 16 delegados, sendo os nove da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), três que atuam em outras delegacias e mais três do interior do estado. Além deles, 30 agentes e dez escrivães também integram o grupo.

Força-tarefa foi montada após morte de Ana Lídia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Força-tarefa foi montada após morte de Ana Lídia
(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Segundo informações da Polícia Civil, os crimes tiveram dinâmica semelhante. Porém, de acordo com o delegado titular da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), Murilo Polatti, as investigações apontam que as motocicletas usadas são de marcas e cilindradas diferentes, além das descrições físicas dos suspeitos não serem as mesmas.

O delegado explica que algumas das investigações indicam crimes passionais e outras apontam envolvimento das vítimas com consumo e tráfico de drogas. Entretanto, ele não dá detalhes para não comprometer os inquéritos.

Serial killer
Desde maio, quando surgiu a possibilidade de que exista um “serial killer” na capital, a Polícia Civil tratava o caso como um boato. No último domingo (3), a corporação voltou a afirmar que não crê na possibilidade de que um assassino em série esteja agindo em Goiânia, mas revelou, pela primeira vez, que não descarta a hipótese.

A última vítima foi a estudante Ana Lídia Gomes, de 14 anos, morta no sábado (2) em um ponto de ônibus por um motociclista no Setor Conjunto Morada Nova, em Goiânia. O assassinato da menor aumentou a desconfiança em relação a um assassino em série devido às semelhanças dos crimes.

A família dela acredita que todos os crimes estejam interligados. “Não é coincidência. Até quando vão falar que não é [um assassino em série]?”, questiona a avó.

Após a morte de Ana Lídia, diversas pessoas passaram a comentar sobre o assunto nas redes sociais e a pedir que as autoridades se mobilizem. Em diversos perfis, internautas colocaram fotos com símbolos e frases de luto, cobrando respostas nos casos ainda em aberto e também maior segurança na capital.

Força-tarefa foi montada após morte de Ana Lídia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Força-tarefa foi montada após morte de Ana Lídia
(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Gravação
A suspeita de que um assassino em série estaria agindo em Goiânia surgiu no fim do mês de maio, após uma mensagem de voz ser compartilhada pelo aplicativo de celular WhatsApp. Nela, uma pessoa não identificada diz que um homem já havia matado 12 mulheres na capital. No entanto, na época, a polícia tratou o caso como boato.

A mensagem informa que o “serial killer tem uma motocicleta preta e um capacete preto” e que age, principalmente, nos setores Jardim América, Sudoeste e Nova Suíça. Além do áudio, também é compartilhado o retrato falado do suposto assassino. A imagem realmente foi elaborada pela DIH e retrata o suspeito de executar a assessora parlamentar Ana Maria Victor Duarte, de 26 anos, na porta de uma lanchonete do Setor Bela Vista, no dia 14 de março.

Posteriormente, uma montagem do retrato falado com a foto de um jovem foi compartilhada nas redes sociais, informando que se tratava do autor dos crimes. Quem aparece na imagem é o consultor de vendas Rafael Siqueira Aleixo, de 27 anos, que não tem relação com os casos.

O jovem afirmou que teve que mudar sua rotina e a aparência por causa da comparação. Com medo de ser morto por justiceiros, ele procurou a Polícia Civil para denunciar a divulgação da mensagem que utiliza sua foto como sendo a do criminoso. “Não é brincadeira ser acusado de algo tão sério, nunca fiz mal a ninguém. Minha família e meus amigos estão muito preocupados. Tenho medo de morrer”, relatou o jovem em entrevista ao G1, em junho.

 

Fonte: G1

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