Desfila pra cá, faz carão, posa pra lá. Foi esse o processo pelo qual passaram 110 modelos na seleção para o Afro Fashion Day (AFD). A segunda edição do evento será realizada pelo jornal CORREIO no Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. Aproximadamente 60 modelos subirão na passarela montada na Praça da Cruz Caída, no Centro Histórico. Integrarão o time ainda artistas e personalidades negras convidadas.
A seleção aconteceu, de quarta-feira (2) até esta sexta (4), na Rede Bahia. Oito agências e bookers levaram seus modelos apostando em três requisitos. “Buscamos negros que saibam andar na passarela e tenham atitude. Beleza todos eles têm. É um casting muito variado, com estilos diferentes, saindo do caricato. Tudo a ver com o conceito do Afro Fashion Day”, revela o produtor Fagner Bispo, que assina a produção do desfile.
Ano passado, o AFD abriu portas para modelos baianos ganharem o mundo. É o caso dos gêmeos Juan e Raul Santos, de 19 anos. “Usei o material do desfile para apresentá-los a uma agência das Filipinas. Somou muito por ser um evento aberto, bem produzido. Eles estão fazendo o maior sucesso na Ásia, já foram capa de revista, estamparam campanhas publicitárias”, comemora o scouter Viny Vasconcellus.
Dessa vez, ele levou 24 nomes para a peneira, entre elas, Lavínia Duarte, 18 anos, que nasceu com uma deficiência na perna direita e é modelo fotográfica. Se for selecionada, será a primeira vez da garota na passarela.
Já Suellen Massena, que participou da primeira edição do projeto, usa a experiência de 12 anos como top model para retornar ao evento como booker. “A vida inteira vi desfiles grandes onde a passarela era totalmente branca e ninguém se incomodou, a não ser os negros”, disse a modelo e empresária.
Para ela, o grande mérito do AFD é valorizar uma grande parte da população que não se vê representada. “Serve para a menina da padaria que se identifica, para a minha avó que fica orgulhosa, porque não tem costume de ver negros nos comerciais da televisão. A gente tem que fazer acontecer, não importa como é o mercado, tem que encarar”, defende.
Ano passado, Dandhy Braz, 21, era uma dessas garotas que se impressionaram com o universo de beleza e autoafirmação criado pelo AFD. Ela esteve na Praça da Cruz Caída, mas longe dos holofotes. “Trabalhei no estande da estilista Najara Black. Senti a energia, estava ali do lado, mas era como se não estivesse. Jamais imaginei que poderia subir na passarela um ano depois”, contou a jovem, na torcida para entrar para o hall dos escolhidos.
Na expectativa do que o Afro Fashion Day pode trazer para os iniciantes, Sivaldo Tavares levou 11 jovens para a seleção. Ele toca um projeto beneficente de formação de modelos que desenvolve todos os sábados, no Largo de Pedro Archanjo, no Pelourinho. “Abro espaço para plus size, baixinhas, adultos e crianças com questões que serão úteis na vida toda, em diversas profissões. Participar do AFD é uma grande oportunidade para os que têm perfil de mercado verem que vale a pena treinar, aprender e se dedicar”, conta o booker.
Participaram ainda da seleção modelos das agências Mega Salvador, Raí Fotografia, Park Models, Bi Produções, Model Club e One Models. Essa última já tem confirmados no desfile os quatro ganhadores da 18ª edição do concurso Beleza Black. “Temos uma proposta parecida, ao empoderar e enaltecer ainda mais o negro no mercado publicitário e na sociedade baiana”, explica Pepê Santos, produtor do evento e booker da One Models.