MOKUKÁ- Um canto ao homem branco

 

MOKUKÁ KAYAPÓ

Mokuká kayapó Mebengokré nasceu na Aldeia Moikarakô na beira do Riozinho, filho de Kupatô e Iakaê já falecidos, ainda hoje continua na aldeia em que nasceram e morreram seus pais.

Na época da colonização os indios que não aderiram aos costumes do colonizador foram fugindo para dentro das matas e beira dos rios e assim seus avos e pais depois de muito andar firmaram raizes nessa terra no Estado do Pará. Uma região ainda isolada com muita água, caça, pesca onde os indigenas ainda podem sobreviver de maneira bem tradicional. Na aldeia eles recebem assistencia médica atraves da FUNASA , não tem indigenista e o lider é o cacique Akyaboro, que atualmente é tambem funcionário público. Mokuká afirma que os mebengokres não se sentem seguros com essa liderança, pois Akyaboro viaja muito e tem mais contato com o branco que com os proprios indigenas.

Mokulá tem oito filhos e todos vivem na aldeia Moikarakô e seguem fielmente a cultura mebengokrê sobrevivendo da caça que segundo ele é em abundancia como o mutum, arara, jacu, papagaio, e outros.

Todos são contra a construção da hidreletrica de Belo Monte, pois temem que o alagamento acabará com a diversidade de peixes e caça, as matas com as plantas medicinais e muito mais a privacidade do indigena que passará a conviver mais de perto com os costumes do homem branco.

Mokuká viveu a experiencia da convivencia com o homem branco quando ainda com oito anos de idade ficou doente e foi levado pelo servidor Chico Meireles, do antigo SPI (Serviço de Proteção ao Indio) para se tratar em Belém capital do Pará e por lá ficou morando por tres anos. Aprendeu a falar bem o portugues estudando em escolas públicas, leu livros infantis e brincou com brinquedos bem desconhecidos dos indigenas. Considera a experiencia válida, pois hoje é um interlocutor entre brancos e indigenas, viaja para Sao Paulo, Rio, Manaus, Inglaterra e recentemente foi convidado pelo lider cacique Raoni para acompanha-lo em suas viagens.

Porém afirma que nem todo indigena saberá ter essa convivencia sem perder sua cultura e considera um grande perigo, talvez até o fim da cultura mebengokré com a construção de Belo Monte:

– Nois respeita a natureza, a criança, o rio, todo tipo que esta na aldeia. nos tem bastante pedra preciosa, minerio mais caro nois mora em cima dele e não vamos cavar a terra e destruir o futuro dos nossos netos. Branco não pensa, cava a terra, tira o minério, o dinheiro acaba e a fica sem terra para plantar e criar seus filhos e netos.

Mokuká é um homem sereno, forte e muito preocupado com o futuro do seu povo:

– Nossa liderança é fraca, Raoni já está bem velho, Akyaboro funcionário público e os kayapo ainda não tem uma pessoa certa para ser lider, a maioria não tem muito conhecimento da lei do branco e não possui experiencia como lider. Se quisessem eu assumia a liderança, pois gosto de ler e falo bem a lingua do branco, eu ia acelerar.

Cabeça baixa se cala por uns minutos e ai diz:

– A cultura pode acabar se não ter um lider forte, com Belo Monte vamos ficar muito proximo do branco. Estou muito triste, preocupação muito grande, Raoni está triste tambem com o futuro dos kayapos mebengokres. Nois ainda está isolado, mas depois de Belo Monte não sei, me sinto muito triste, falta alguem, cadê ele, de onde que vem esse lider forte para segurar nossa cultura.

Mokuká é um grande cantor indigena, interpreta várias canções na lingua kayapó e diz

– Gosto de cantar sobre o mato, rio, peixe, pesca, aldeia, a música do indio é pedir proteção ou imitando animal ou natureza. Existe indio já fazendo musica de forró de branco, mas isso não é bom, não está pedindo nada. Nois gosta de pedir chuva, comida e saude na musica.

No palco do XIII Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros ele emocionou milhares de pessoas quando cantou o Hino Nacional Brasileiro na lingua mebengokrê.

Uma turista que chorava muito ao ouvi-lo cantando desabafou:

– Ele cantou o hino do Brasil, esse Brasil que tanto maltratou sua gente e ainda maltrata.. e ele ainda o exalta na lingua kayapó…

Sim, Mokuká é um sábio nas palavras e na música e conseguiu após vários anos traduzir a letra do Hino da Pátria para ser cantado aos brancos e assim ele ensina sua familia a cantar em homenagem ao Brasil.

– Minha neta que canta, eu canta. Nossos ancestrais não tinha briga, vivia em paz com comida e tradição à vontade, sem barulho, sem sal, vivia todos juntos nas aldeias. Agora outro vai ocupando os territorios dos indios, por isso eu canta o hino nacional.

Mokuká inicia o Hino Nacional com voz bem forte como se cantasse para o mundo ouvir, um mundo bem diversificado na Aldeia Multietnica, um mundo que para solenemente sem entender…Talvez cantando, ele consiga chamar a atenção para seu povo mebengokrê, sua tradição musical que ainda é um ritual à natureza, uma natureza que o homem civilizado teima em destruir.

Resumindo o cantor indigena Mokuká faz um desabafo:

– Nois indio não precisa ficar pedindo, nois tinha que ser pago como cuidador das matas, das riquezas, das águas… o governo tinha que reconhecer e pagar nois por cuidar da natureza, o indio é o único que cuida da terra ainda…

 

Índios e quilombolas debatem dificuldades de manter seus costumes

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Fonte: Over Mundo

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