Movimento denuncia ‘extermínio’ de moradores de rua e cobra ação pública

Policiais e neonazistas seriam os autores dos crimes. Levantamento mostra que pelo menos 304 pessoas foram mortas no Brasil nos últimos seis meses

Por: Gisele Brito

São Paulo – Pesquisa do Movimento Nacional de Pessoas em Situação de Rua (MNPR) mostra que pelo menos 304 moradores de ruas foram assassinados no Brasil entre janeiro e junho deste ano. Na média, são quase duas pessoas por dia. O levantamento tem por base notícias publicadas em jornais.

Segundo integrantes do movimento, os responsáveis pela maioria das mortes são policiais atuando como seguranças privados e grupos neonazistas. “Comerciantes pagam para policiais que trabalham como seguranças para fazer isso. Esse extermínio é fruto da Copa, da Olimpíada e de uma sociedade preconceituosa que insiste em dizer que todo morador de rua é usuário de drogas, vagabundo, bandido”, diz Anderson Miranda, presidente da entidade.

Os líderes do movimento pedem a criação de políticas para combater o que chamam de “genocídio” e reclamam que as promessas feitas em março pelo Comitê Intersetorial de Monitoramento da População em Situação de Rua (CIMPR), coordenado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, não foram cumpridas. “As pessoas continuam morrendo e nada é feito”, afirma Miranda.

O coordenador do Comitê, Wellington Pantaleão, rebate as críticas afirmando que medidas importantes já foram tomadas. “Desenvolvemos a estratégia e oficiamos que cada estado destaque um promotor do Ministério Público e um defensor público para acompanhar os casos que tínhamos informação. Ao mesmo tempo, oficiamos as secretarias de segurança pública, de direitos humanos e as polícias para que os casos recebam a atenção devida”, aponta.

Segundo Pantaleão, um comitê de defensorias está sendo implantado para garantir a atuação em novos casos. Dessa forma, cada estado teria um promotor ou um defensor público de referência permanente. E a reunião de um grupo de trabalho que contará com a participação dos movimentos sociais está marcada para a primeira semana de julho.

A ideia é que sejam discutidas formas de tornar a ação da polícia mais efetiva para a proteção da população de rua. Mas ele ressalta a dificuldade dos órgãos públicos em prevenir novos atentados: “Como se previne a violência contra crianças, idosos ou contra a população de rua? Só com muita educação em direitos humanos.”

Impunidade
Apesar de o MNPR apontar a atuação de grupos de extermínio, a maioria dos casos não têm inquérito aberto. Pantaleão e o defensor público Carlos Weis acreditam que isso é uma realidade não restrita apenas à população de rua. “Na verdade há um problema de investigação policial no Brasil como um todo. Somente os casos mais rumorosos têm atuação mais efetiva. Sem resolver isso não conseguimos combater a criminalidade”, acredita Weis.

Miranda, no entanto, defende que é possível prevenir e punir os crimes se políticas intersetoriais forem adotadas. Para ele, municípios, estados e União deveriam trabalhar juntos. “Claro que não é o governo federal que cuida diretamente dessa questão, mas ele poderia não repassar verbas para cidades que não respeitem os direitos humanos dessa população. Nós estamos denunciando esse massacre e os governos não fazem nada”, enfatiza.

 

 

Fonte: Rede Brasil Atual

+ sobre o tema

IBGE: 3 em cada 4 pessoas com nível superior são de cor branca

CIRILO JUNIOR A presença de pretos e pardos com nível...

Racismo humilha e mata

Joilson de Jesus era um menino franzino, aparentava bem...

‘Morre com dignidade’, diz policial a garoto agonizando após batida; veja

Cinco adolescentes morreram em acidente após perseguição em Planaltina. Corporação...

para lembrar

Movimentos pedem canais seguros para denunciar violência policial em São Paulo

Ouvidoria com poder de investigação seria caminho institucional. Casos...

Ministro defende adoção de política de cotas por universidades paulistas

A adoção das cotas nas universidades estaduais "é...

Gianvito Rossi empresa de sapatos é acusada de racismo contra Serena Williams

Longe das quadras por conta de sua gravidez, a...

Rio de Janeiro se tornou resort do crime organizado

Nesta semana, o Supremo Tribunal Federal retomou o julgamento...
spot_imgspot_img

‘Piada’ de ministro do STJ prova como racismo está enraizado no Judiciário

Ontem, o ministro do STJ João Otávio de Noronha, em tom de "piada", proferiu uma fala preconceituosa sobre baianos durante uma sessão de julgamento. A suposta...

Identitarismo, feminismos negros e política global

Já faz algum tempo que o identitarismo não sabe o que é baixa temporada; sempre que cutucado, mostra fôlego para elevar o debate aos trending topics da política...

Gilberto Gil, o filho do tempo

Michel Nascimento, meu amigo-irmão que esteve em Salvador neste ano pela milésima vez, na véspera da minha viagem, me disse que uma das coisas...
-+=