Muhammad Ali, O Maior dentro e fora dos ringues

Wladmir Paulino

Provavelmente, se fosse apenas um lutador de boxe campeão, Cassius Marcellus Clay Jr. não mereceria tantas homenagens nesta terça-feira (17), dia em que completa 70 anos. Afinal, outros tantos foram campeões, alguns por mais tempo ou com um cartel mais impressionante. Ele veio parar aqui por ser Muhammad Ali, o primeiro tricampeão dos pesos-pesados que peitou o próprio país, defendeu direitos civis, lutou contra o racismo, caiu, levantou e vive uma batalha com o Mal de Parkinson há quase 30 anos, uma luta cujo último gongo ainda não soou.

Clay nasceu em Louisville, cidade do estado do Kentucky, no racista sul dos Estados Unidos. Filho de um pintor de cartazes, sua infância não prometia nada brilhante até sua bicicleta ser roubada aos 12 anos, no estacionamento do Columbia Auditório. A explosão de fúria do garoto impressionou o policial Joe Martin, que o indicou o treinamento de boxe para descarregar tanta energia – ele também era treinador. O pai não gostou da ideia mas não proibiu o filho de lutar.

 

Sua primeira vítima foi Ronnie O’Keefe, ainda como amador. A bolsa, se é que é possível dar tal denominação, foi de míseros US$ 4. A carreira amadora chegou ao auge seis anos depois, nos Jogos Olímpicos de Roma (1960). Ainda como meio-pesado, Cassius ganhou a medalha de ouro, num cartel que contava com 100 vitórias e apenas cinco derrotas.

Mesmo com parcos 18 anos ele já dava mostras de suas duas facetas mais conhecidas: o incrível jogo de pernas em cima do ringue e a consciência social. Apesar de recebido com festa em sua cidade não foi atendido num restaurante só para brancos ao pedir hambúrgueres. Em sinal de protesto atirou a medalha no Rio Ohio.

No mesmo ano estreou como profissional. A sequência de vitórias já trilhava o caminho inexorável do título mundial. E no dia 25 de fevereiro de 1964, aos 22 anos, ele enfrentou o campeão Sonny Liston. Com uma movimentação nunca vista para um peso-pesado aliado a violentos jabs, Clay foi minando o adversário pouco a pouco até a vitória por nocaute técnico no sétimo round. A imagem do jovem pugilista correndo para todos os lados do ringue gritando “Eu sou o maior!” é uma das cenas mais marcados da história do esporte. Liston pediu revanche no ano seguinte e foi à lona no primeiro round.

Clay seguiu triturando seus adversários pelos três anos subsequentes até chegar ao ponto da virada, 1967. A fama e o dinheiro que o boxe lhe deram não o levaram para longe de suas origens. Ao contrário, aproximaram ainda mais. Embora fosse taxado por muitos como arrogante e boquirroto, pois exaltava seus feitos constantemente, o campeão passou a lutar por direitos humanos e civis, principalmente defendendo os negros. Foi isso que o levou a tomar a decisão mais polêmica – e o por isso mesmo, corajosa – de sua vida: convocado para combater na Guerra do Vietnã ele disse não.

O efeito dessas três letras foi devastador. Foi processado pelo exército norte-americano, condenado a cinco anos de prisão e perdeu sua licença para lutar, consequentemente, o título mundial. As autoridades do país colocaram-lhe pecha de anti-americano, numa tentativa de deixá-lo como o vilão da história e evitar que outros jovens seguissem o mesmo exemplo. Foram quase três anos tentando reverter a pena, só conseguida na Suprema Corte. A outra mudança radical foi sua conversão ao islamismo e o nome com o qual passou a ser conhecido e virou lenda: Muhammad Ali. Não queria ser mais Cassius Clay, segundo ele, seu nome de “escravo”.

Quando voltou, em 1971, encarou Joe Frazier e conheceu sua primeira derrota como profissional. Só recuperaria o cinturão três anos depois numa épica luta contra George Foreman, no Zaire. Posteriormente, o combate se transformaria no filme Quando éramos reis. Nesse ínterim derrotou alguns dos maiores pesos-pesados da época como Ken Norton, George Chuvalo e Floyd Patterson. Frazier foi desafiado novamente e desta vez derrotado.

Muhammad AliAlém do cinturão o ano de 1974 marcou a primeira reconciliação com os EUA. Numa solenidade na Casa Branca recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade. O segundo reinado duraria quatro anos até ser derrotado Leon Spinks, em 1978. Sete meses depois devolveu a derrota e recuperou seu reinado. No ano seguinte anunciou sua retirada dos ringues. Retornou em 1980 para perder para Larry Holmes. No ano seguinte nova luta e nova derrota, desta vez para Trevor Berbick. Foi quando, aos 39 anos decidiu parar definitivamente.

Ele voltou às manchetes em 1984 quando anunciou que sofria do Mal de Parkinson, doença degenerativa que compromete toda a parte motora do paciente, inclusive a fala. Foi aí que sua atividade humanitária ficou ainda mais forte. Passou a viajar pelo mundo todo para participar de campanhas beneficentes. Foi recebido por diversos chefes de Estado. O prestígio tornou-se tamanho que Ali conseguiu a libertação de 14 americanos feitos prisioneiros pelo então ditador iraquiano Saddam Hussein em Bagdá.

Recebeu diversos prêmios, entre eles o de Esportista do Século XX, eleito pela revista Sports Illustrated. Sua filha, Laila, seguiu carreira de boxeadora e tornou-se campeã mundial na categoria supermédio em 2006.

EMOÇÃO – A segunda e definitiva reconciliação aconteceu nos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta (EUA). Na abertura, coube a ele acender a pira olímpica. Antes do jogo entre Estados Unidos e Iugoslávia pelo torneio masculino de basquete o eterno campeão recebeu uma réplica da medalha de ouro conquistada por ele 36 anos antes. Era o pedido de desculpas definitivo.

No início do século XXI ele ampliou seu trabalho beneficente ao criar a Muhammad Ali Center em Lousville, onde os moradores participam de avidides culturais e educacionais em 2005. Em 2010 iniciou um tratamento com células-tronco em Israel. Com a saúde comprometida tem aparecido cada vez menos em eventos sociais. Ao contrário de seu nome e seus feitos com e sem luvas de boxe mesmo em tempos que os “gladiadores” dos UFC’s da vida tenham relegado os praticantes da nobre arte a segundo plano.

 

Fonte: NE10

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