Mujica: “Brasileiros não reconhecem melhorias sociais”

No Rio, ex-presidente uruguaio disse que políticos têm que viver como a maioria

Por Eduardo Miranda, no Jornal do Brasil 

Em um discurso pela política e pela coletividade, o ex-presidente uruguaio Jose “Pepe” Mujica disse, após receber homenagem da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul (Federasur), que o Brasil mudou muito positivamente, mas que a população, em geral, não reconhece os ganhos sociais e atribui o progresso exclusivamente ao esforço individual.

“Muita gente que melhorou não se dá conta de que a melhora é resultado de medidas que foram tomadas ao longo dos anos. Muita gente crê que melhorou apenas pelo seu esforço individual e não vê que lhe deram a oportunidade. Isso se passa não apenas no Brasil, mas em todos os lugares, em outras sociedades modernas”, apontou Mujica, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio.

O ex-presidente se recusou a fazer críticas à presidente Dilma Rousseff e disse que é preciso ter habilidade diplomática e carinho com o povo brasileiro. Ao ser informado sobre a ocorrência de manifestações de rua que pedem a volta dos militares no poder, Mujica foi enfático: “As pessoas que clamam por isso são loucas! Loucas! Qualquer democracia, por pior que seja, é melhor que uma ditadura”, disse ele, que passou 14 anos encarcerado no período ditatorial do Uruguai.

Mujica, que abriu mão de 90% de seu salário enquanto esteve no comando de seu país, argumentou que não prega voto de pobreza, mas alertou para o fato de que a ganância de homens públicos pelo dinheiro está matando a confiança na política. O uruguaio foi aplaudido de pé quando defendeu que os políticos devem viver como a maioria da população.

“Eles têm que viver como a maioria, e não como a minoria privilegiada. Se o político se acostuma a comer na mesa e a ir à casa dos muito ricos, ele pensará que é muito rico também. Se ele faz isso, ele afeta a confiança, e o homem precisa confiar em algo. Aquele que só gosta de dinheiro não deve ter lugar dentro da política.”, concluiu o senador uruguaio.

Em seu discurso, que durou trinta minutos, o ex-presidente disse que não vive sem utopia, que “só a multidão pode mudar a realidade”, que “não há homens imprescindíveis, há causas imprescindíveis” e criticou os imperativos do capitalismo.

“Quem disse que para ser feliz é preciso comprar um telefone novo a cada quatro meses? Por que trocar o carro a cada dois anos? Pagar cotas e cotas e cotas para o resto da vida? Isso é felicidade? O que está em jogo é a felicidade humana, e ela está em poucas coisas: na juventude, no amor. Entre ser desenvolvido e ser feliz, mais vale não ser desenvolvido”.

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