Mulheres agredidas que vivem em comunidades do RJ relatam dificuldade para conseguir proteção

Mulheres agredidas que vivem em comunidades encontram um obstáculo a mais para conseguir proteção do Estado.

“Particularmente, eu acredito que ainda estou em recuperação em relação a isso. Hoje eu faço uso de três medicações, calmantes e um antidepressivo. Então acabei desencadeando isso. A depressão, a ansiedade “, diz uma vítima agredida pelo companheiro, que encontrou dificuldade para conseguir ajuda.

Ela prefere não se identificar porque o ex-companheiro ainda está solto e vive escondida em uma casa que ele não sabe onde fica. As lembranças da agressão ainda moram bem perto.

“Eu descobri uma traição dele. E nesse questionamento da traição, nessa discussão, ele veio para cima de mim mais uma vez para me bater. Ele me deu muito soco. Muito, muito, muito soco. No rosto, na costela, na cabeça, nos meus braços e eu tentando me proteger. Os meus braços ficaram todos marcados. Mão, eu tentava levara mão no rosto para poder me proteger dos socos e ele me batia cada vez mais. No momento em que me batia, a única coisa que ele dizia para mim era o seguinte: ‘É isso que você quer? Então agora eu vou te matar’. Eu realmente de fato achei que fosse morrer ali. Achei que não teria uma chance”.

Ela conseguiu sair de casa e pedir socorro. Foi levada a um hospital por uma amiga.

“Eu estava, realmente, com o rosto todo marcado, todo inchado já por conta das pancadas, dos socos. A minha testa, a cabeça, estava cheia de galos, o rosto já estava… Os olhos estavam todos roxos”.

Depois do hospital, ela procurou a polícia.

“A família toda condenou, criticou, porque onde já se viu eu ter feito esse tipo de coisa, né? A família por parte dele. Que eu iria estragar com a vida dele, iria acabar com a vida dele. E eu me senti muito mal com isso. Muito, muito. Acreditando realmente que eu pudesse estar fazendo mal. E me anulando mais uma vez do mal que ele havia me feito”.

Com o registro na polícia, a vítima buscava por proteção. Mas não foi o que aconteceu.

“Onde eu morava, era muito próximo de comunidade. Não era dentro da comunidade, mas era muito próximo. Então, ali dentro eu também não estava segura. Para que eu pudesse ter a segurança da polícia, eu teria que andar uns dois quarteirões. Sair de dentro da minha casa, né? E me colocar um pouco mais para fora, mais longe da comunidade. Porque a polícia não entra”.

Ela conseguiu uma medida protetiva, que obriga o agressor a manter uma distância de 500 metros.

“Mas só vai funcionar se eu estiver lá fora. Dentro de casa, infelizmente… Eu não tenho. A gente se sente realmente desprotegido. A nossa segurança tem que ser realmente 24 horas. Se existe uma medida protetiva, se existe uma denúncia, eles vão esperar o quê? Que meu corpo esteja caído ali na esquina? Hoje eu fui vítima dele. De repente, lá atrás, outras mulheres podem ter sido e não tiveram a coragem de fazer o que eu fiz. Futuramente outras poderão ter. Então, hoje eu entendo que ele precisa ser responsabilizado pelo o que ele fez”.

A vítima mandou uma mensagem para outras mulheres que passam por situações de violência dentro de casa.

“Tenham coragem e se olhem. Se enxerguem, porque a gente tem muita coragem, muita. A gente tem muita força. É até difícil falar, porque muitas vezes a gente acha que não tem, a gente acha que é dependente daquela situação, que a gente é dependente do outro. Existe uma vida após a violência, existe muita vida. E a gente não merece. Eu não preciso passar por isso. Eu devo isso às minhas filhas. Para que elas entendam que tem que haver o respeito, tem que ser respeitado. A gente, como mulher, ninguém tem o direito de te dar um tapa, ninguém. Namorado… Converso muito isso com elas. Namorado, marido, o que seja. Jamais. Jamais permita”.

A delegacia onde o caso foi registrado informou que o inquérito foi concluído – o autor foi indiciado e o caso encaminhado ao Ministério Público, que já ofereceu denúncia à Justiça.

Na Justiça, o caso está em fase de inquérito.

“É muito comum esses casos chegarem à casa, entendo que o Estado não cria uma política de proteção para a população de favelas. Principalmente dessas mulheres. Com o discurso que não é possível criar e garantir esses direitos dentro desses espaços, a partir do contexto ali, dos acontecimentos existentes no território. O que mais nos traz indignação é essa não proteção nesses espaços. Esse é o grande diferencial da favela: a gente se protege. Vamos criando redes de proteção para essas mulheres”, a coordenadora da Casa das Mulheres da Maré, Joelma Sousa.

A Casa das Mulheres da Maré é ligada à Redes da Maré. Lá, além de assistência jurídica e psicológica, as mulheres recebem cursos de formação para que possam se libertar financeiramente dos agressores.

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