Mulheres às ruas contra o estatuto do nascituro

Manifestações de mulheres em todo o Brasil repudiaram o estatuto do nascituro, PL que transita pelo Congresso e foi aprovado na primeira comissão. Em São Paulo, cerca de 1.500 pessoas estiveram na Praça da Sé, em ato que reuniu a diversidade de grupos feministas da cidade.

por Terezinha Vicente

As falas de algumas lideranças contam da indignação que toma conta do movimento de mulheres com o avanço do conservadorismo, inclusive dentro dos poderes da República. Abaixo, algumas fotos e falas do ato público de SP, realizado no sábado, na Praça da Sé.

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Mais uma vez as mulheres estão nas ruas, e é bom lembrar que tem mulheres se manifestando em todo o Brasil contra o Estatuto do Nascituro que é, na verdade, uma declaração de ódio às mulheres, declaração de genocídio, pelo fim das mulheres. Quem inventou esse estatuto odeia as mulheres. Nascituro é uma farsa, temos que garantir é a vida das mulheres, garantir o direito das mulheres decidirem se querem ou não ser mães, pelo fim da maternidade obrigatória! Nós queremos que todas as crianças que nasçam sejam desejadas, amadas pela mãe e pelo pai, não queremos que sejam filhas de estupradores, lutamos contra a violência à mulher, estupro é crime! Não aceitamos bolsa estupro! Queremos a legalização do direito ao aborto! Amelinha Teles – União de Mulheres

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Falo em nome de milhões de mulheres católicas que estão passando por uma situação de perda da vida por conta da criminalização do aborto. Quero dizer que a IC devia ter muito mais atenção não só a vida do embrião, das células que nem se sabe se vão nascer, e muito mais atenção à vida das mulheres, que estão vivas. Uma mulher gestante com câncer, por exemplo, não vai poder fazer tratamento, a vida daquele conjunto de células vai valer mais do que a vida dela, uma mulher que sofre estupro vai ter que conviver com o seu estuprador. Nós de CDD não fazemos apologia do aborto, não queremos o aborto, mas se a gente quer que as mulheres parem de morrer, se queremos diminuir o número de abortos, temos que lutar pela legalização do aborto no Brasil! Regina Juerkewicz – Católicas pelo Direito de Decidir

Esse projeto legaliza o machismo e o patriarcado! Nossa luta e mobilização vai seguir e nossa voz vai ecoar por esse Brasil afora, por esse mundo afora, e esse projeto não vai passar! E nós vamos seguir na luta pela descriminalização do aborto, pela legalização do aborto. Nossa luta é muito antiga, tem vários séculos e milênios, só vamos sair das ruas quando tivermos garantido todo nosso direito à autonomia e igualdade! E no que se refere à sexualidade, nós dizemos NÃO ao modelo que o patriarcado e o capitalismo nos impõe, dizemos SIM para a expressão do erotismo e do desejo das mulheres, seja nas relações heterossexuais mas também no direito à sexualidade lésbica, queremos garantir o exercício livre da nossa sexualidade! Nalu Faria – MMM (Marcha Mundial das Mulheres)

Falam de útero, sem ter útero, falam da periferia sem nunca ter ido lá. Nós mulheres negras somos a base de tudo, é trata-se de uma questão de saúde pública, nossas jovens negras são exploradas e estão morrendo nos hospitais por falta de atendimento! Sonia Santos – MNU ( Movimento Negro Unificado)

Isso (o PL) é a legalização do estupro, crime hediondo, crime de guerra! Não podemos permitir! Se o estupro for legalizado teremos cada vez mais retrocesso. O governo nunca tem dinheiro para dar aumento aos professores, não investe na educação, inclusive sexual e nós vamos pagar a bolsa estupro??!! Que moral das igrejas vai reger a nossa vida? A da Igreja Católica, que protege os padres pedófilos, ou as igrejas evangélicas que protegem aquele pastor da Assembléia de Deus do RJ que estuprou diversas mulheres?? É com essa moralidade que eles querem reger nossa vida??!! Igreja tem que fazer proselitismo é dentro do templo! Márcia Balades – LBL (Liga Brasileira de Lésbicas)

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Não dá para as igrejas fazerem nossas escolhas, o Estado fazer nossas escolhas, os homens fazerem nossas escolhas. O que está em jogo é o avanço do conservadorismo, não dá mais para falar do avanço, mas sim da institucionalização do conservadorismo na política brasileira! Eles ocuparam todos os espaços e tem ditado as regras, em nome dessa governabilidade, tem várias câmaras municipais por aí aprovando um monte de leis parecidas com o estatuto do nascituro, e os movimentos sociais tem sido muito criminalizados. O que esse estatuto faz é criminalizar a luta da mulher! Laura Cymbalista – PSOL (Partido Socialismo e Liberdade)

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Esta opressão, mais uma, que estão querendo colocar sobre nós vai acabar com o nosso direito sobre o próprio corpo; o corpo é nosso, sobre ele somos nós que decidimos. A CUT já explicitou nossa posição sobre esta questão, as mulheres tem que decidir! CUT (Central Única dos Trabalhadores)

O momento é muito importante, a cidade de São Paulo está indo às ruas, o Brasil inteiro está indo às ruas, o movimento feminista está aqui fazendo a mesma coisa, lutando por nossos direitos! A violência contra as mulheres, contra os homossexuais, não para de crescer. O estatuto do nascituro vem na contra-mão da possibilidade de avanços em nossos direitos. Temos que exigir que a presidente Dilma vete esse estatuto! Movimento Mulheres em Luta (Conlutas)

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Querem impor os valores de uma religião sobre outras religiões e sobre quem não professa religião alguma. O estatuto do nascituro é a ponta do iceberg! O retrocesso está se dando em vários campos. Tivemos recentemente o avanço deles na área da saúde provocando a retirada de uma campanha e a demissão da pessoa responsável por ela; querem determinar, contra conclusões dos psicólogos, o que é doença, querem impor a cura gay! Não estamos mais na Idade média quando se queimavam as mulheres como bruxas! Rachel Moreno – Observatório da Mulher

É mentira dizer que as mulheres da periferia são contra a legalização do aborto. É mentira dizer que as mulheres da periferia não fazem aborto, elas fazem e são as criminalizadas por isso, por terem que fazer um aborto clandestino, ilegal e inseguro. Ana Rosa – Movimento Olga Benário

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É um brutal ataque aos direitos das mulheres, esse estatuto do nascituro é a legalização da tortura e da morte das mulheres, é a legalização da violência da convivência da mulher com seus violentadores. Temos que lutar pelo aborto legal, seguro, gratuito, pois infelizmente até agora a presidenta Dilma demonstrou que não vai legalizar o aborto, manteve o acordo Brasil-Vaticano feito pelo presidente anterior. Rita Frau – Grupo de Mulheres Pão e Rosas

Queremos dizer para esses governantes, principalmente para os que estão no Parlamento, dizer não a esse retrocesso que ofende de forma vergonhosa a nós, mulheres. Nós não podemos jamais aceitar que isso aconteça num país que se diz democrático! Rozina Conceição – UBM (União Brasileira de Mulheres)

O estatuto do nascituro é a grande pancada dos misóginos, eles disseminam o ódio contra as mulheres em nossa sociedade. Nós vamos derrotar esses conservadores que querem dizer que 52% da população não tem o direito de ser pessoa, de ser sujeito. A nossa luta é de pessoas que acreditam na sua autodeterminação, que acreditam na autodeterminação dos povos, que querem uma sexualidade livre, uma sociedade livre! Sonia Coelho – SOF (Sempre Viva Organização Feminista) 

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Fonte: Ciranda

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