Elas trabalham, estudam, são independentes financeiramente e estão cada vez mais investindo na carreira antes de constituir família. Mas, ainda assim, as mulheres podem mentir ou não ser totalmente honestas quando questionadas sobre o número parceiros sexuais que já tiveram.
“Elas dizem para mim que mentem. Entrevisto alunas em torno dos 20 anos e elas ainda têm o discurso que, se tiverem muitos parceiros, os rapazes não vão querer namorá-las”, diz a antropóloga Mirian Goldenberg, professora na Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de “Tudo o que Você não Queria Saber sobre Sexo” (Record), escrito em parceria com Adão Iturrusgarai.
Mirian acredita não ser necessário responder a uma pergunta tão pessoal ao parceiro, mas entende porque as mulheres distorcem a verdade. “Elas mentem por causa da pressão cultural, que ainda provoca um medo enorme de serem julgadas como infiéis, irresponsáveis e pouco confiáveis por serem mais livre sexualmente,” diz. Segundo Mirian, elas sentem a necessidade de responder à demanda do homem de querer controlar e avaliar a mulher a partir do que ela já experimentou.
Para Carmita Abdo, psiquiatra, fundadora e coordenadora do Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade) da USP (Universidade de São Paulo), se a mulher omite a verdade não é por constrangimento. “É talvez por se preocupar com o ego dele e pensar em como ele vai se sentir pouco à vontade com a experiência dela. Talvez isso a deixe pouco à vontade para falar do número de parceiros”, diz.
Segundo Carmita, um homem inseguro com a qualidade do sexo que proporciona realmente pode não ficar confortável diante de uma parceira mais experiente. “A preocupação dos homens com seu próprio desempenho acaba sendo maior. Mas essa questão não é importante entre pessoas bem resolvidas sexualmente”, diz.
A iniciação sexual cada vez mais precoce para ambos os sexos e as uniões que acontecem mais tarde na vida das pessoas levam a um aumento das mentiras ou omissões sobre o passado sexual, segundo Carmita. “Com isso, o número de parceiros ao longo da vida é maior”, diz ela.
O interesse pela quantidade de parceiros sexuais do companheiro é de ambos os sexos, mas os homens têm maior necessidade de controle, de acordo com Mirian. “Quando a mulher pergunta pode ser só curiosidade. Quando o homem faz o mesmo pode ser uma forma de garantir que ele não será traído. Segundo ela, se um homem disser que não sabe ou não lembra quantas parceiras teve, a mulher dificilmente se preocupa. Já se a mulher fizer o mesmo, pode criar um problema. “Ele vai entender que ela teve um número grande de parceiros pouco significativos e sem envolvimento e, portanto, poderia mais facilmente ser infiel”.
O número ideal
Entre 2000 e 2003, Mirian aplicou um questionário sobre relacionamentos para 1279 pessoas (444 homens e 835 mulheres). Uma das perguntas era sobre o número de parceiros sexuais. Segundo a antropóloga, as mulheres davam respostas extremamente precisas, e a maioria dizia que havia tido de um a cinco parceiros. “A que respondeu mais falou em 27 homens, mas se sentia muito desconfortável. Para as pesquisadas, teve muitos parceiros quem já transou com mais de 20. Por isso, nunca consigo saber realmente se elas disseram a verdade”, diz Mirian.
Mas o que seria considerado um número ideal de parceiros? Segundo estudo realizado em 2006 pelo doutor em psicologia Ailton Amélio com 368 estudantes com idade em torno de 24 anos, as mulheres relataram uma média de 3,2 parceiros, enquanto a média masculina foi de 6,6 parceiras.
Segundo Mirian, é comum que as mulheres mais jovens vejam três parceiros como o número ideal. Já as mais velhas costumam dizer que tiveram de cinco a sete. “Quando elas respondem três ou cinco, é porque identificaram qual a média aceitável para os homens. Para uma mulher moderna não pega tão bem responder zero ou um. As respostas sugerem o que os homens gostariam de ouvir”, diz Mirian.
Já as respostas masculinas costumam ser imprecisas, segundo Mirian. “Eles dizem terem transado com dezenas, ou ‘mais ou menos dez’ ou até ‘entre 30 e 100’. Isso faz suspeitar que o que eles dizem não condiz com a realidade”, afirma. “A mulher tem medo de estar acima da média e o homem, abaixo dela”, afirma.
Claudia Regina: Como se sente uma mulher
Fonte: Mulher