Mulheres pretas que movimentam #11 – Katiúscia Ribeiro

Professora de Filosofia, poetisa, formadora, educadora. Katiúscia Ribeiro é mulher preta em essência. O sentido de comunidade que tento resgatar em vida foi ela que me ensinou. Essa foi uma das entrevistas mais aguardadas por mim e sabem a pergunta que estou fazendo sobre a mulher preta que todo mundo deveria conhecer? Ela é uma das minhas respostas. Não se sai de um a conversa/bate-papo/diálogo com a Katiúscia sem uma troca rica e engrandecedora. Poderia ficar rasgando muitos elogios para ela, mas paro por aqui pra vocês conhecerem melhor.

Por  Karina Vieira, do Meninas Black Power 

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MBP – Quem é você? 
Katiúscia Ribeiro – Mulher preta de Asè , de luta preta em luta preta!

MBP – Como se deu a descoberta da sua negritude?
KR – Venho de uma família de militância preta. Meu avô era da Frente Negra Pelotense, me levava em reuniões desde de criança; minha mãe, ativista potente, deu conta de continuar essa luta. Aos 15 anos de fato soube o quanto era fundamental lutar para não esvair em dor racial. Meu primo/irmão aos 19 anos foi violentamente assassinado pela polícia, por ser – como em tantos outros casos – “confundido com um bandido”. Ao ver seu corpo preto no necrotério e os fortes gritos de minha mãe, percebi que era necessário reagir para não morrer… A ele e por ele persisto. (Ainda dói…) A cada segundo respiro a força de nossos ancestrais para permanecer e prosseguir.

MBP – O que te levou a escolher a sua profissão?
KR – Minha profissão não foi escolhida por mim. Passei no vestibular em Economia, porém fiquei doente e perdi o prazo de inscrição. Tive que entrar nas vagas ociosas com a pretensão de trocar para a primeira opção depois de um período, no entanto cada tentativa de troca foi totalmente sem sucesso e nesse percurso o amor à Filosofia foi se consolidando. Fui vendo nessa uma arma potente na libertação preta. Hoje agradeço aos ancestrais por frustrar todas as tentativas de mudança de curso. Estou e sou realizada nessa escolha. Creio ela foi feita por eles.

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MBP – Como foi o caminho da sua graduação?
KR – Difícil e pesado… Mas consegui concluir no tempo preciso.

MBP – Quem são as pretas e pretos que te inspiram?
KR – Qualquer preta e preto que sobrevive a essa masmorra mental de dominação a qual fomos submetidos me inspira… Todos os meios utilizados na busca de nossa emancipação servem como combustível motivacional. “Por todos os meios necessários”, como disse Malcolm X.

MBP – Quem é aquela mulher preta que você conhece e quer que o mundo conheça também?
KR – A preta que respira o ventre africano.

MBP – Na sua trajetória profissional o quanto avançamos e o que ainda temos que avançar? 
KR – Cada tijolo colocado é fundamental e preciso. Muito temos que trabalhar e solidificar essa muralha. Me alegra saber que muitos sacos de cimentos já foram utilizados para construção desse muro de resistência, no entanto ainda não está na hora de pausar e respirar. Precisamos continuar a erguer essa muralha preta.

MBP – Como você lida com a sua estética negra?
KR – Tenho um cuidado diário comigo. Entendo que o fortalecimento da estética faz parte desse ato de amar-se a si que o racismo luta para neutralizar. O fortalecimento de nossa autoestima nos renova enquanto seres africanos.

MBP – O que é representatividade pra você?

KR – Só digo: “representatividade importa e muito”. Ao olhar o outro, é minha imagem refletida , meu espelho preto.

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