Mulheres sustentarão famílias e serão maioria nas empresas, diz escritora

Segundo Liza Mundy, escolaridade alavancou nº de mulheres no mercado.
Nos EUA, 40% das mães são responsáveis pelo sustento do lar.

Por: Pâmela Kometani

As mulheres vão desempenhar um novo papel na configuração das famílias e da sociedade, de acordo com a escritora e jornalista norte-america Liza Mundy. De donas de casa, elas se tornarão as provedoras do lar, sendo responsáveis pela principal fonte de renda familiar, e ainda marcarão presença em postos de liderança e chefia no mercado de trabalho. Jornalista do Washington Post, Liza é autora do livro “Michelle – a biografia”, sobre a primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama.

“Nos Estados Unidos, 40% das mães são responsáveis pelo sustento de suas casas. Algumas são mães solteiras e criam seus filhos sozinhas, mas existe um número crescente de mulheres que estão ganhando mais do que seus maridos”, disse Liza.

No seu livro “O sexo mais rico”, que está sendo lançado no Brasil, Liza analisa como a ascensão das mulheres no mercado de trabalho está alterando a configuração das famílias e a forma como elas se relacionam com os homens. Ela esteve em São Paulo nesta terça-feira (6) para participar do Fórum Nossa Felicidade, promovido pela revista Claudia e pelo HSBC.

Liza apresentou uma pesquisa do Pew Research Center que indica que a parcela de maridos que sustentavam a casa sozinhos nos Estados Unidos caiu de 35% em 1967 para 18% em 2009. Atualmente são 66 milhões de mulheres empregadas – eram 30 milhões em 1970, e três quartos trabalham em período integral.

Segundo o instituto de pesquisa, graças aos rendimentos das mulheres, os maridos tendem a se tornar cada vez mais os principais beneficiários financeiros no casamento.

O principal fator da ascenção da mulher ao posto de “chefe da casa” é a escolaridade. Com mais profissionais do sexo feminino obtendo diplomas de nível superior, o mercado de trabalho passou a absorver mais mulheres.

Nos Estados Unidos, 80% das profissionais com formação universitária com idades entre 25 e 64 anos estão no mercado de trabalho. Até 2050, serão 150 mulheres com formação universitária no país para cada 100 homens, diz o estudo.

O sexo feminino já é maioria entre os universitários nos países desenvolvidos e agora também está se destacando em outras localidades, sendo 61% dos estudantes de faculdades e universidades da Mongólia, 53% em Botswana, 62% na Arábia Saudita e 60% nos Emirados Árabes.

“As mulheres já estão se tornando maiora em ramos como pediatria, veterinária e direito. Elas estão tomando os lugares dos homens. A crescente presença da mulher mudou as reportagens que eu escrevo e também o tipo de matérias em que meus editores estão interessados”, afirmou Liza. Ainda sobre a presença do sexo feminino no mercado de trabalho, ela lembrou que quando começou a atuar no jornalismo, há 25 anos no jornal Washington Post, em que permanece até agora, todos os seus editores eram homens. Hoje todos os cargos de editor são ocupados por mulheres.

Salário ainda menor
Apesar da média de ganhos reais das mulheres que trabalham em período integral ter aumentado 31%, enquando os salários dos homens ficaram estagnados, as profissionais do sexo feminino ainda recebem cerca de 81% menos do que os homens.

Segundo Liza, há cerca de 70 e 80 anos, os homens ganhavam mais porque eram os provedores da casa, mas agora que as mulheres estão tomando esse posto, elas precisam ser pagas da mesma maneira. “Acho que quanto mais conversarmos sobre as mulheres serem provedoras e responsáveis pela sua família, será mais provável que elas sejam pagas da maneira que merecem”, completou.

Ela ainda cita duas razões principais para essa situação. A primeira é que os homens ainda trabalham mais horas do que as mulheres e porque eles estão em posições mais “sêniores”, pois são mais velhos. “Conforme as mulheres vão subindo de posição, isso vai se nivelar”, afirmou a escritora.

Sobre a tímida presença de mulheres em presidências de empresas ou como CEOs, Liza ressalta que esse é uma das situações que está mudando de forma mais lenta. De acordo com a escritora, isso tem a ver com o tempo que o processo leva e também com o tempo que a mulher precisa ficar longe de sua família. “Ela precisa ter apoio do cônjuge, mas terá que ficar em casa com ele em um determinado momento”. Além disso, algumas executivas preferem continuar com as funções e ter tempo para cuidar de seus filhos.

Ela também lembra que isso acontece por causa de uma cultura corporativa, em que os homens contraram pessoas como eles, ou seja, acabam contratando profissionais do sexo masculino com as mesmas características.

Carreira e família
Para Liza, os homens estão entendendo que é bom ter uma mulher que ganha mais e passaram a ajudar em casa e também a admirar a companheira. Mas, ainda existe uma grande resitência na sociedade. “Alguns familiares não aceitam que a mulher seja a provedora, que ela sustente a casa, e querem que os homens se sintam envergonhados e mudem essa situação”, afirmou.

Ela lembra que na sua geração era comum que a carreira do homem se tornasse muito maior do que a da mulher e ela desistia do trabalho. Além disso, a única forma de ter sucesso como adulto seria o casamento.

“Para as mulheres de hoje em dia, ter uma boa educação e tantas opções pode ser uma oportunidade para casar com um homem que vai privilegiar a carreira da mulher, que possa fazer sacrifícios e se comprometer com o sucesso da sua companheira”, ressaltou Liza.

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Fonte: G1 

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