Musical conta história de Jovelina Pérola Negra, nome essencial do samba

23/09/25
O Globo, por Ricardo Ferreira
Espetáculo tem assinatura de Leonardo Bruno e Luiz Antonio Pilar, mesma dupla da premiada “Leci Brandão — Na palma da mão”

Uma voz grave e marcante, mas sobretudo malandra, destacou-se em meio à explosão das rodas de samba que o Rio vivenciou na virada da década de 1970 para 1980. Era a de Jovelina Farias Belfort, a Jovelina Pérola Negra (1944-1998), expoente da turma do Cacique de Ramos, na mesma safra que revelou nomes como Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Almir Guineto e Arlindo Cruz. Partideira de talento nato, Jovelina ganha um musical em sua homenagem, “Pérola Negra do samba”, que estreia neste sábado (20), no Teatro Carlos Gomes, no Centro do Rio. A temporada vai até 9 de novembro.

Com direção de Luiz Antonio Pilar e texto de Leonardo Bruno — mesma dupla por trás do premiado “Leci Brandão — Na palma da mão”, o espetáculo pretende desvendar os caminhos de uma artista singular, que soube se inserir num ambiente quase exclusivamente de homens para deixar seu nome gravado na história do samba e do pagode. Jovelina chegou lá, mas um tanto tarde: foi fazer sucesso somente aos 41 anos, com a participação no disco “Raça brasileira”, álbum que também revelaria Zeca Pagodinho. Ambos ganharam seus primeiros discos solo depois. E a artista morreu cedo, em 1998, de infarto, aos 54 anos.

— Há caminhos para entender por que essa mulher de talento inegável e voz inconfundível, com presença e carisma fora do comum, só consegue gravar o primeiro disco depois dos 40 anos — diz Leonardo Bruno. — Como Dona Ivone Lara, que só consegue gravar seu primeiro disco depois dos 50, e Clementina de Jesus, revelada depois dos 60. A gente consegue perceber que tem algum padrão dessas mulheres pretas vindas de classes inferiores, com dificuldades de acessar mercado fonográfico. A indústria musical demorou muito para descobrir esses três talentos inegáveis.

O musical ‘A pérola negra do samba’ celebra o legado da cantora e compositora Jovelina Pérola Negra — Foto: Divulgação/Luiz Antonio Pilar

Nascida em Botafogo, Zona Sul da cidade, mas criada em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, Jovelina era filha de empregada doméstica, profissão que também assumiu após a morte da mãe. Baiana do Império Serrano, foi na vida boêmia paralela à rotina da escola que ela se encontrou. Virou figura fácil de rodas tradicionais da Zona Norte, onde surpreendeu com seu talento para versar no improviso, cantar e compor. Não é exagero dizer que, naquela época, ninguém era como Jovelina Pérola Negra.

— Ela era essa mulher que vai cantar a malandragem, o subúrbio, a feira, esse carioca do partido-alto, uma característica do repertório dela que não encontramos em nenhuma outra cantora — define Bruno.

A atriz Afro Flor interpreta a homenageada no palco.

— Flor fez um trabalho muito interessante, porque a Jovelina é uma figura difícil pra tentar chegar nela, tem uma voz muito particular — destaca o autor.

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