Na pele de um negro – Por: Kiko Nogueira

A TV francesa fez, há poucos anos, um documentário chamado “Dans La Peau d’un Nour” (“Na Pele de um Negro”). Foi dividido em duas partes e passou no Canal+.

Baseou-se num livro do americano John Howard Griffin. Em 1959, Griffin, um texano, se pintou de negro para contar como era a segregação.

No caso francês, o enfoque foi dado a duas famílias, cada uma formada por um casal e um filho jovem (um rapaz e uma moça). Uma ideia simples e brilhantemente executada. Com maquiagem pesada, as famílias se transformaram e ficaram irreconhecíveis. Os parisienses puro sangue Laurent Richier, 40 anos, Stéphanie e o garoto Jonathan passaram a viver como o antilhano Romuald Berald, sua companheira Ketty Sina, camaronesa, e o pós-adolescente Audrey Verges.

A família Richier é liberal. São politicamente corretos, acreditam num monte de coisas boas, como bicicletas, e creem que a sociedade avançou enormemente. Para Stéphanie, há uma dose de vitimização na maneira como os negros se enxergam na França.

As duas negras vão a um restaurante. Stephanie acredita que é lenda que melhores lugares são para caucasianos.

E então batata: a hostess as encaminha para os fundos. Não de maneira descarada (“vocês, feios, fora”), mas com bastante sutileza. Stéphania, ao perceber, fica enlouquecida. Reclama na casa, fica tomada pela indignação.

Questiona a amiga como ela não fica enraivecida (enragée) diante daquilo. Como não se revolta. Tem como resposta que, se ela for reagir de maneira violenta diante de cada injustiça, não consegue ter uma vida próxima do normal.

Para Ketty Sina, se cada negro se sublevar quando maltratado no bar, no táxi, na pizzaria, no trabalho, na escola, na TV, numa batida policial, fica virtualmente impossível seguir adiante.

O documentário está na íntegra na Internet. A diretora, Christine Cauquelin, disse que “não é um filme sobre raças, mas sobre comportamentos que estão causando tensão na França”. É didático e mostra uma realidade que tende a passar despercebida no dia a dia — para quem não é negro, evidentemente.

Ainda bem que, no Brasil, não existe racismo.

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