Na sexta-feira à tarde, um juiz recusou o pedido de Kesha para ser liberada de seu contrato com a Sony.
Por Emma Gray, do Huffington Post
O contrato obriga a popstar de 28 anos a gravar mais seis discos com a empresa e, portanto, a liga ao produtor que ela acusa de ataques sexuais.
Em 2014, Kesha entrou com um processo contra o produtor Dr. Luke (Lukasz Gottwald), cuja empresa é parte da Sony.
Segundo a revista Billboard, o processo detalha as acusações de Kesha contra Dr. Luke.
Ele teria abusado da artista durante anos, forçando-a a usar drogas, dando a ela remédios para acordar e estuprando-a. Desde então, ela briga com o produtor na Justiça, para livrar-se do contrato e do convívio com ele.
Kesha é uma celebridade rica, linda e branca, que opera nos mais altos escalões de uma indústria de elite. Mas nem mesmo esses privilégios a diferenciam de outras vítimas de abuso sexual que têm de lidar com um sistema judicial que muitas vezes não oferece proteção.
A história de Kesha joga luz sobre o fato de que o estupro é um dos crimes menos denunciados.
Mulheres (e homens) costumam esperar anos para falar sobre abuso sexual. Considere as vítimas de Bill Cosby, algumas das quais só se sentiram seguras de vir a público décadas depois.
Ainda assim, isso não impede as pessoas de questionar por que as vítimas não se manifestam antes e sugerem que a hesitação significa que elas estejam mentindo.
Vítima: *se manifesta*
Justiça: “Menos pra você rs” #FreeKesha
Significa ter a vida esmiuçada, como se as pessoas quisessem descobrir se você é uma“vítima perfeita”. Significa lidar com uma polícia e um júri que acreditam em mitos sobre o estupro.
“Você já foi estuprada?”, disse Madonna a Howard Stern no ano passado, quando ele perguntou por que a cantora não denunciou um ataque violento para a polícia no fim dos anos 1970. “Não vale a pena. É muita humilhação.”
Na maioria das vezes, mesmo depois de toda essa “humilhação”, o acusado nunca vai ser preso. Segundo a organização não-governamental RAINN, apenas 2% dos estupradores são condenados à prisão e, embora seja um pouco mais fácil vencer um caso civil do que um jurídico, nada é garantido.
Pelo menos em 2016, o tribunal da opinião pública pode oferecer algum apoio para mulheres e homens que fazem denúncias. As hashtags #FreeKesha e#SonySupportsRape estiveram entre as mais tuitadas. Mas é claro que hashtags não têm nenhuma influência sobre o caso.
Kesha veio a público com suas acusações. Ela enfrentou um turbilhão – emocional, físico e profissional. Mas a distância que ela quer manter do seu agressor ainda não está a seu alcance.
A mensagem para quem quer fazer uma denúncia é: o risco de perder é grande e de ganhar, pequeno.
Que tipo de “justiça” é essa?