Nas ondas do rádio: o racismo dissimulado da elite do rádio gaúcho

Fonte: Discriminação Racial

Impressionante: enquanto a FIFA e a UEFA travam uma luta incansável contra a ocorrência de manifestações racistas no futebol, os integrantes do Programa Sala de Redação da Rádio Gaúcha, em Porto Alegre, na quinta-feira 25, conseguiram defender o indefensável. O jogador Máxi Lopez chamou o atleta Elicarlos do Cruzeiro de “macaco” e os integrantes do Sala, com exceção de Kenny Braga e Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha, consideraram uma manifestação inocente, negando a evidente conotação racista.
Luiz Carlos Silveira Martins, o Cacalo, ex-dirigente do Grêmio, chegou a utilizar-se de um dicionário espanhol, para justificar a candura do atacante gremista. Paulo Santana aplaudiu e disse que sempre se deu bem com “eles”.

Todos, é claro, declararam-se não racistas. O professor Ruy Carlos Ostermann encerrou o assunto com um simples “o assunto é complicado. Deixa assim”.

Já no Terceiro Tempo, programa da Rádio Guaíba, Haroldo de Souza igualmente tentou minimizar a gravidade da agressão racista de Máxi Lopez. O jornalista Juremir Machado da Silva, no entanto, fez questão de dizer com todas as letras que se trata sim de uma atitude racista. Nem todos estão surdos, cegos e loucos.

A falta de noção histórica, ao que parece, não tem limites, principalmente quando envolve renomados escritores e consagrados comentaristas esportivos. Na verdade, são ou comportam-se como verdadeiros racistas – ocultos atrás do muro do farisaísmo – que, ainda por cima, gozam do privilégio de propagarem suas ideologias em emissoras de grande audiência.

Na certa, depois da aula de racismo dissimulado, os integrantes do programa Sala de Redação foram almoçar em suposta paz de espírito, quando na verdade, se esse fosse um país sério, deveriam sair algemados direto para um desses maravilhosos cárceres brasileiros, por sinal, abarrotados de negros, exatamente por conta da direção política da elite representada por figuras como essas que atuam em programas radiofônicos de grandes audiências.
A hipocrisia, aparentemente, desconhece fronteiras, principalmente quando envolve interesses étnicos-clubísticos.

moah sousa

Nilton Luz
Graduando em Economia – UFBa
Militante da Ousar Ser Diferente / Rede Afro-LGBT / Kiu!
Esquerda Democrática e Popular – PT / Núcleo Setorial LGBT do PT-BA
Conselho Municipal da Comunidade Negra
Tel.: 9169-9159 / 9969-2424

Matéria original: Nas ondas do rádio: o racismo dissimulado da elite do rádio gaúcho

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