A necessidade do ‘negro imbecil’ para o racismo brasileiro

por Sérgio Martins

O estrato da cultura nacional propõe alguns estereótipos para as pessoas afrodescendentes, gostaria de pensar um pouco sobre eles, porque de forma recorrente eles aparecem nas músicas, nos programas humorísticos e nas novelas: o clássico malandro, o embriagado, a Negra maluca e o crioulo doido; a empregada subserviente (a famosa ama de leite). Há um traço comum nestes seres fragmentados que é o descolamento com a realidade funcional da sociedade.

Tais personagens criados em sua maioria por pessoas que se dizem brancas, se expressam através de um intradiscurso forjado em um mundo a parte, que a todo tempo, se auto-rediculariza, colocando-se como um ser não idêntico ao seu interlocutor. Porém trata-se seu um discurso criado pelo imaginário branco doente ou adoecido pelo racismo brasileiro.

De forma inacreditável a Rede Globo lança mão desta formula em um programa humorístico para grande parte de população brasileira, exibido aos sábados, sem quaisquer crivos de analise do impacto de tal proposta para jovens e crianças.

Ora, o verdadeiro humor faz rir ao parodiar situações inusitadas do nosso dia-a-dia, como tão bem fazia as saudosas interpretações de Oscarito, Dercy Gonçalves, Grande Otelo.

Perguntamo-nos qual a necessidade de uma caricatura fora do contexto social, tal como o personagem ADELAIDE da Zorra Total.
Aparentemente, trata-se de uma necessidade do “self coletivo” racializado de expor sua mente doente, repisando um lugar imaginário necessários para justificação de seu “status quo” e ao mesmo tempo dizendo de forma clara: Aceitem o achincalhamento racista, pois faz parte do CONTRATO SOCIAL DA DEMOCRIACIA RACIAL BRASILEIRA.

Só existe um regime democrático, onde renunciamos à utilização da força bruta, na certeza que nossas liberdades fundamentais serão protegidas. Parece que já passou hora de manifestarmos nossa indignação pública na porta do PROJAC para afirmamos para sociedade brasileira, que acreditamos na democracia, na igualdade, nas liberdades, na dignidade humana, e que os meios de comunicações, ressaltado a livre iniciativa deveriam contribuir de forma significante contra a disseminação do racismo, de homofobia e todas as demais formas de preconceitos e discriminações.

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