“Negro ser príncipe é grito rumo ao avanço”, diz ator Tiago Barbosa

Aos 31 anos, Tiago Barbosa quebra preconceitos e faz história. Depois de protagonizar o musical “O Rei Leão” em 2013 e 2014, é o primeiro negro a fazer papel de príncipe em uma superprodução vinda da Broadway para o Brasil: “Cinderella”, em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo. Antes, Barbosa atuou no musical “Mudança de Hábito”, também protagonizado por uma atriz negra, Karin Hils.

“Sou o primeiro negro a fazer um príncipe de grandes clássicos da Broadway no Brasil. E sou o primeiro negro no mundo a fazer o papel de Príncipe Topher “, diz Barbosa, ao UOL. “Nem preciso dizer o tamanho do meu contentamento em poder fazer história no Brasil neste momento”, afirma o ator, que faz o Príncipe nas sessões de sexta, dividindo o papel na temporada com o colega Bruno Narchi, que é branco.

Ao dar destaque a Barbosa, o Brasil segue a tendência internacional. “Na Broadway, esses passos, rumo ao avanço, já foram dados com a entrada de Keke Palmer e Sherri Shepperd como protagonistas da obra: Madrasta e Cinderella negras”, conta o ator ao blog.

Ele reitera a relevância de um negro ser príncipe: “É um grito rumo ao avanço. Fico feliz, em iniciar esse processo e deixar esse legado para meus filhos, para que eles possam querer ser o que quiserem ser, não apenas escravos em obra de novela e traficantes em filme, mas terem a possibilidade de sonhar em serem reis, príncipes, arautos ou membros da corte e poderem alcançar”, declara.

Ajuda à família e exemplo

O jovem ator que deixou a favela do Vidigal no Rio para viver em São Paulo ao ser aprovado para protagonizar “O Rei Leão” conta que a obra lhe ofereceu “amadurecimento pessoal e profissional”. O cachê recebido foi investido na família. “Ajudei a melhorar a vida dos meus pais lá na comunidade. Minha mãe voou pela primeira vez e consegui presenteá-la com uma hamburgueria, para ela parar de vender pipas”, revela.

Antes dos palcos, Barbosa estudou pedagogia e trabalhou em ONGs cariocas. “Sempre falei para meus alunos sonharem em ser algo melhor”, recorda. “Deixar de ser um professor que simplesmente falava e passar a ser o sonho realizado de cada uma dessas crianças é sensacional”, declara. Mas lembra que não é passo de mágica: “Persistência e preparo técnico são aliados. Há pouquíssimos negros atuando nesse mercado justamente pela falta de oportunidade”.

Preconceito velado

O ator lembra que ainda existe “preconceito velado” contra negros no meio teatral, sobretudo nos discursos de alguns produtores e diretores. Mas, diante das adversidades, usa seu profissionalismo como arma. Mesmo assim, sabe que preconceito precisa ser combatido diariamente. “Podemos contar nos dedos negros que vemos atuando na mídia, digo isso também sobre a gordinha, sobre o índio e muitos outros grupos”, fala.

Barbosa espera que produtores e diretores parem de enxergar só a cor da pele dos atores. “Audição determinar etnia dos personagens é desigual e excludente. ‘Cinderella’ mostra o valor das diferenças”, discursa. Por isso, sonha com mudança. “Quero crer que faço parte de uma nova geração que está fazendo acontecer a mudança. Quero ser um ator respeitado e não só estar vinculado a uma cor para poder fazer um tipo de papel”, finaliza ele, que sonha ainda em protagonizar outro musical: “A Cor Púrpura”.

Enquanto não realiza o sonho, faz show além da peça. No próximo dia 11 de maio, faz o espetáculo intimista “Living Room Concert”. No repertório, não faltam nomes negros: “Nina Simone, Ray Charles, Stevie Wonder e Milton Nascimento”, adianta. Pelo jeito, Barbosa está muito bem acompanhado.

“Cinderella”
Quando: Sexta, 21h30 (Tiago Barbosa faz esta sessão); sábado, 16h e 20h; domingo, 15h e 18h30. 135 min. Até 5/6/2016
Onde: Teatro Alfa – Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro, São Paulo, tel. 11 5693-4000
Quanto: R$ 50 a R$ 180
Classificação etária: Livre

Tiago Barbosa no show Living Room Concert
Quando: 11/5/2016 (quarta), 21h
Onde: Rua Treze de Maio, 1429, Bela Vista, São Paulo
Quanto: R$ 90
Classificação etária: 18 anos

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