Negro tem de sentir orgulho, não vergonha, dizem Taís Araújo e Lázaro Ramos

O casal Taís Araújo e Lázaro Ramos está consciente de que há uma mudança em andamento no comportamento dos negros brasileiros, cada vez mais empoderados e conscientes. E o tema, que acompanha os dois na TV, na série ”Mister Brau”, é desenvolvido pela dupla também no palco.

Após sucesso em São Paulo, que rendeu a Taís indicação ao Prêmio Shell de Teatro de melhor atriz, o espetáculo ”O Topo da Montanha”, no qual ela contracena com Lázaro, segue em turnê pelo Brasil, com produção do casal e direção de Lázaro.

Já vista por 30 mil pessoas, a peça da jovem dramaturga norte-americana Katori Hall é inspirada na trajetória do líder negro estadunidense Martin Luther King Jr. (1929-1968), assassinado após lutar pelos direitos da população negra. A dramaturgia constrói uma ficção do último dia de vida deste mártir histórico.

A obra será apresentada em Belo Horizonte, no Palácio das Artes, neste sábado (15), 20h, e domingo (16), 19h, integrando as comemorações de 15 anos do projeto Teatro em Movimento na capital mineira. Taís e Lázaro conversaram com o Blog do Arcanjo do UOL com exclusividade sobre o projeto e como enxergam a situação do negro nos dias de hoje. Leia a entrevista.

Miguel Arcanjo Prado – Como vocês enxergam o empoderamento do negro nos últimos tempos?
Taís Araújo – Eu acho que tem acontecido uma coisa muito bonita em nós, negros. Há um resgate com nossa história, com nossa identidade. E daí, a reboque, vem esse empoderamento. Você nota que distorceram nossa história. E pensa: “nossa, contaram uma história toda errada para a gente. Uma história para a gente sentir vergonha quando tem que sentir orgulho?”. E aí, quando você sente o orgulho, aí vem todo o poder, dentro de cada um de nós. É isso que estamos resgatando agora. É algo lindo e é uma avalanche. Porque eu já vou criar meu filho de maneira diferente, e o meu filho já vai criar meus netos de maneira diferente… Aí, é um patrimônio chamado autoestima. E aí você levanta a cabeça e olha no olho. E segue.

Miguel Arcanjo Prado – Hoje vocês se veem como negros de forma diferente do que no começo de suas carreiras? Por quê? O que mudou?
Taís Araújo – O que vejo basicamente de diferente é que eu me sinto escutada. Isso é um valor. É uma grande conquista saber que as pessoas pensam no que eu falo. E também uma responsabilidade.
Lázaro Ramos – Eu tinha um sonho de ter um carreira autoral. Como a Taís disse, conseguimos essa carreira e fomos escutados.

Miguel Arcanjo Prado – Qual o principal recado que querem dar ao público com este espetáculo ”O Topo da Montanha”?
Taís Araújo – Olhar o outro, deixar de ser individualista. A gente já viu que essa coisa de olhar o outro, do afeto, é fundamental para nossa existência.

Miguel Arcanjo Prado – Como foi escolher este texto?
Lázaro Ramos – Este texto me perseguiu como ator por dois anos, por meio de pessoas que diziam que tinha de fazê-lo no Brasil. E é contemporâneo porque é uma história também sobre enfrentar medos. Sobre os trilhos da coragem e do afeto.
Taís Araújo – Tínhamos muito receio de que o texto fosse americano demais e não tocasse as pessoas. Mas o tempo e uma boa tradução, feita por Silvio José Albuquerque e Silva, nos convenceram que as questões do amor e da igualdade são relevantes e próximas a todos nós.

Miguel Arcanjo Prado – Como foi que Lázaro assumiu a direção?
Taís Araújo – A nova tradução era muito boa e ora eu ri, ora me emocionei. Finalmente fazia sentido e tive a convicção de que era viável para o Brasil. Insisti para que Lázaro a revisse e, mais tarde, com a impossibilidade do João Falcão dirigir, pressionei para que ele a assumisse.
Lázaro Ramos – Dirigir não estava em meus planos, principalmente porque conciliar a direção com a atuação era algo que eu sempre disse que não faria. Foi a Taís, minha grande parceira de cena e de vida, me convenceu a encontrar e acreditar na força de Martin Luther King.

Miguel Arcanjo Prado – Qual a característica de Martin Luther King Jr. que vocês mais admiram?
Lázaro Ramos – Acho que é a oratória. E a firmeza de seus ideais. Um ideal de afeto que pode mudar sempre algo para melhor.

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