O último presidente do apartheid na África do Sul, Frederik de Klerk, celebra nesta terça-feira o 20º aniversário do discurso histórico no Parlamento em que anunciou a libertação dos prisioneiros políticos, entre eles Nelson Mandela, e a legalização dos partidos negros.
“Este discurso foi um marco na história da África do Sul. Para os sul-africanos brancos, ele marcou a vontade de acabar com séculos de humilhação e dissensões e abandonar a posição dominante que ocupavam há 300 anos”, declarou Dave Steward, diretor da Fundação FW (Frederik Willem) de Klerk.
“Para os sul-africanos negros, os acontecimentos de fevereiro de 1990, o discurso de FW e a libertação de Mandela anunciaram uma nova era de dignidade, de igualdade e de direitos políticos”, prosseguiu.
Para marcar este aniversário, a Fundação organizou nesta terça-feira na Cidade do Cabo (sudoeste) uma conferência intitulada: “20 anos após o dia 2 de fevereiro de 1990: olhar para trás, olhar para a frente”. Várias personalidades, entre elas o próprio De Klerk, deviam discursar.
O último presidente branco da África do Sul pronunciou o famoso discurso no dia 2 de fevereiro de 1990, cinco meses depois de sua eleição, num momento em que a tensão nos guetos estava no auge e a economia sofria as consequências das sanções internacionais.
“Foi um gesto corajoso, para evitar que o país mergulhe no caos”, analisou Paul Graham, diretor do Instituto para a Democracia na África Austral.
Nove dias depois do discurso, Nelson Mandela, o herói da luta contra o apartheid, saiu de prisão, depois de passar 27 anos atrás das grades.
A libertação de Mandela surpreendeu muitos sul-africanos. “Sempre tive a certeza de que Mandela seria libertado algum dia, mas não achei que estaria vivo para ver isso”, declarou à AFP o ex-arcebispo da Cidade do Cabo e militante contra o regime segregacionista Desmond Tutu.
As negociações entre Mandela e De Klerk, iniciadas quando o primeiro ainda estava preso, deviam levar o país, então à beira da guerra civil, para a democracia.
“Nelson Mandela foi um dos primeiros a se dar conta da necessidade de uma solução pacífica e negociada”, disse De Klerk, 73 anos, à AFP.
“Ele trouxe uma contribuição indispensável às negociações e à promoção da reconciliação nacional de nossa nova sociedade”, acrescentou o ex-militante do Partido Nacional, responsável pela criação do quadro legal do apartheid.
Em 1993, os dois homens receberam o Prêmio Nobel da Paz. Um ano depois, Mandela foi eleito à presidência da África do Sul, tornando-se o primeiro chefe de Estado negro do país.
Dezesseis anos depois de suas primeiras eleições multirraciais, a África do Sul conquistou a democracia, mas enfrenta altos níveis de desemprego e criminalidade e uma desigualdade crescente entre ricos e pobres.
O duplo aniversário “nos dá a chance de refletir sobre se tiramos proveito das oportunidades que nos foram oferecidas”, sentenciou Graham.