Nelson Mandela foi preso há meio século

A África do Sul assinala amanhã o 50º aniversário da detenção, perto de Durban, do seu herói Nelson Mandela, que ia tornar-se o prisioneiro político mais famoso do mundo ao ficar 27 anos nas cadeias do regime do apartheid.

Uma estátua é inaugurada hoje, no mesmo local onde foi preso, na presença do Presidente sul-africano, Jacob Zuma.
Nelson Mandela, que tem actualmente 94 anos, foi detido pela polícia no dia 5 de Agosto de 1962 perto de d’Howick, a cem quilómetros de Durban (Este), quando regressava clandestinamente a Joanesburgo, após uma visita à grande cidade do Leste. Apenas seria libertado a 11 de Fevereiro de 1990.

Mandela tinha acabado de voltar de uma longa viagem a todo o continente africano recentemente independente e a Londres, durante a qual ganhou nome na cena internacional.

Na África do Sul, tornou-se o “Black Pimpernel” (o esquivo), que fazia aparições aqui e ali no país até que foi procurado pela polícia, para grande gozo da imprensa local.

Mandela tinha fundado, alguns meses antes, Umkhonto weSizwe (MK), o braço armado do Congresso Nacional Africano (ANC, proibido em 1960), cujo objectivo era empreender acções de guerrilha.

Em Durban, ele tinha ido prestar contas da sua viagem ao estrangeiro aos militantes locais do MK e a Albert Luthuli, o presidente do ANC.
Disfarçado de motorista, regressava a Joanesburgo sob o nome falso de David Motsamayi, no carro do encenador de teatro, branco, Cecil Williams. Sentado, paradoxalmente, no lugar do passageiro, discutia as possibilidades de um atentado contra a linha férrea quando foram interceptados pela polícia, cem quilómetros depois de Durban. “Tentar fugir teria sido um risco”, contou durante uma visita ao local, em 1993. “Considerei que o jogo tinha chegado ao fim.”

“A detenção foi muito cordial, muito educada. O polícia estava a cumprir o seu dever, de acordo com a lei”, acrescentou.
Nunca se soube quem o traiu.

Falta de prudência

“Ele não se dava a conhecer aos seus amigos, incluindo a mim, porque sabia que nós éramos vigiados e seguidos”, conta o advogado Georges Bizos, que lhe é próximo: “Foi uma surpresa saber que ele tinha sido preso em Howick. Soubemos depois que ele não tinha sido suficientemente prudente.”

Nelson Mandela fez sensação ao fazer a própria defesa durante o seu processo judicial, ao longo do qual apareceu vestido com uma roupa tradicional em pele de leopardo. Apanhou cinco anos de prisão por ter organizado uma conferência proibida e ter saído do país sem autorização, antes de ser condenado a prisão perpétua em 1964, quando as autoridades descobriram que ele tinha estado à frente do MK.

Claro que, nunca ninguém disse, durante os anos do apartheid, o sítio da detenção na R 103, velha estrada entre Durban e Joanesburgo, agora transformada em auto-estrada.

Um modesto monumento foi erguido em 1996, agora eclipsado pela escultura monumental que é inaugurada hoje, composta por 50 varas de metal que simbolizam a cadeia: se olharmos de frente, podemos ver, através de um jogo de luz, o retrato do primeiro Presidente negro que a África do Sul conheceu. Uma exposição temporária, uma réplica reduzida da do Museu do Apartheid de Joanesburgo, foi inaugurada no ano passado, enquanto aguarda a construção de um museu.

Um café transformado em loja de lembranças e vendedoras de jóias com perlas zulus instalaram-se, tal como uma empresa de “piqueniques gourmets”, onde se pode até casar. O aniversário da detenção “recorda ao país a importância do caminho percorrido”, considera Verne Harris, o arquivista da Fundação Mandela.

“Madiba (o nome do clã de Mandela, afectuosamente usado pelos sul-africanos) vive agora numa África do Sul democrática, mas há 50 anos teve de se bater pela liberdade”, acrescenta.

“Apesar de ainda termos muitos desafios para ultrapassar e a realidade ainda ser dura para muitos sul-africanos, fizemos um caminho!”

O aniversário vai ser ainda assinalado a 26 de Agosto através de uma “Maratona Mandela” que tem a chegada ao pé do novo monumento.

 

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Alaide Costa

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