Nem homo, nem hétero ou Bi: A espécie humana é simplesmente sexual

A homossexualidade e o estado civil dela decorrente – o casamento entre pessoas do mesmo sexo – está na ordem do dia. Nas últimas décadas, poucos temas têm despertado debates e polêmicas tão acaloradas – muitos deles destituídos de razão de ser, pelo simples fato de estarem inteiramente baseados em ignorância e preconceitos

Por: Luis Pellegrini

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Homossexualidade. Por que, afinal, um comportamento sexual e afetivo que, a rigor, deveria interessar apenas a quem carrega dentro de si a pulsão atrativa e o sentimento de amor pelo igual, mobiliza tanta paixão, medo e ressentimento, até mesmo em quem afirma e está convencido de não pertencer à categoria homossexual?

Um exame da evolução histórica da homossexualidade pode ajudar a dissipar pelo menos uma parte das trevas que ainda encobrem o tema e, nas cabeças de tantas pessoas, impedem uma sua melhor compreensão.

Para começar, relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo existem desde os tempos das cavernas e provavelmente até mesmo antes, como atesta até hoje a maioria das sociedades de primatas, particularmente a dos bonobos (Pan paniscus). O bonobo é popularmente conhecido por seus altos níveis de comportamento sexual. Os bonobos têm relações sexuais – hetero e homossexuais – não apenas para a reprodução, mas também para apaziguar os conflitos, adquirir status social, afeto, excitação e redução do estresse. Junto com o chimpanzé-comum, o bonobo é o parente vivo mais próximo do ser humano.

O historiador francês Michel Foucault, um dos mais argutos pensadores da segunda metade do século 20, argumentou reiteradamente que as identidades homossexual e heterossexual só emergiram no final do século 19; antes disso, os termos descreviam práticas e não identidades. Foucault cita um famoso artigo do psiquiatra e neurologista alemão Carl Friedrich Otto Westphal, publicado em 1870, onde pela primeira vez aparece a categorização do homossexual.

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Até então, a visão vigente a respeito da sexualidade humana era mais ou menos a mesma daquela descrita pelo antigo filósofo grego Platão em sua obra O Banquete (Symposium). Nesses diálogos filosóficos, os personagens explicam suas visões a respeito das orientações sexuais que consideram possíveis e admissíveis. O filósofo Sócrates, um dos personagens, fecha as discussões fornecendo uma admirável visão de síntese, na qual explica que, simplesmente, no amor sexual como no amor em geral, cada um procura e se sente atraído por aquilo que lhe falta. Ou seja, pouco importa se a pessoa se sinta atraída por homens ou por mulheres. O que conta é que ela seja capaz de correr atrás daquilo que sua natureza profunda aponta como uma carência a ser preenchida e satisfeita.

Em tempos históricos como o atual, caracterizado por uma profunda crise filosófica, o que se observa é uma rápida e poderosa revolução dos paradigmas comportamentais até agora vigentes. Nessa reviravolta, inteiras escalas de valores são alteradas e destruídas, dando lugar a novas escalas.

Como já se observou no passado, durante essas importantes mutações da história, acontece sempre um retorno aos padrões clássicos de valores. No nosso caso, um retorno às nossas origens, à civilização greco-romana, berço de toda a cultura ocidental.

Em termos de sexualidade humana, isso significa o retorno a uma visão clássica que provavelmente está muito mais próxima da verdadeira natureza do ser humano do que todas as elucubrações classificatórias da mentalidade racionalista cartesiana. A visão mais realista que anula todas essas categorias artificiais que dividem as pessoas em grupos heterossexuais, homossexuais e bissexuais, para afirmar que somos todos, por obra e graça da Mãe Natureza que nos criou, seres simplesmente sexuais.

A tendência que se verifica no momento aponta para a criação de condições para que cada um de nós possa, livremente, correr atrás daquilo que lhe faz falta. Sem esquecer nunca daquela regra de ouro que é a base de todo e qualquer convívio social sadio: minha liberdade sexual, como qualquer outra liberdade, termina onde começa a liberdade do outro.

Reproduzimos abaixo o bom artigo produzido pelo blog Oficina de Textos em Cinema (http://oficinadetextoscinema.wordpress.com/textos/), sobre a história da homossexualidade. O blog é uma iniciativa da professora Alene Lins, da Universidade Federal do Recôncavo, em Cachoeira, na Bahia. O artigo, originalmente elaborado para a formação de profissionais teóricos e práticos em cinema, surge como visão de síntese da momentosa questão da homossexualidade e sua evolução histórica.

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Aquiles e Pátroclo: na Grécia Antiga, o tema desse célebre casal de heróis míticos era frequentemente celebrado na arte popular

 

 

Fonte: 247

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