Cada vez mais brasileiros negros buscam resgatar suas raízes africanas, mas encontram um obstáculo comum: a falta de registros sobre seus antepassados, resultado do apagamento histórico durante a escravidão. Para muitos, a solução tem sido recorrer a testes de DNA, que ajudam a identificar a região de origem de seus antepassados subsaarianos.
O Benin, país da costa ocidental da África, lançou em 2024 um programa de cidadania destinado a afrodescendentes do mundo todo com ascendentes deportados durante o tráfico negreiro.
Benin abre portas para descendentes de africanos escravizados
A medida é interpretada como um gesto de reparação histórica, além de uma estratégia para atrair turistas, talentos e investimentos. Entre os beneficiados estão a filósofa brasileira Sueli Carneiro e a cantora americana Ciara, enquanto figuras como Lauryn Hill e Spike Lee foram convidadas como embaixadores da diáspora.
No Brasil, muitos afrodescendentes não possuem documentos que comprovem sua ancestralidade, já que registros foram destruídos ao longo do tempo, como a queima de arquivos de compra e venda de escravizados ordenada por Rui Barbosa em 1890. Por isso, o teste genético tornou-se um recurso importante, com análise feita por laboratórios especializados e custo médio de R$ 300.
A solicitação da cidadania beninense pode ser feita online, pela plataforma My Afro Origins, mediante taxa de 100 dólares. O processo, segundo o governo do Benin, leva cerca de três meses para ser concluído.
Especialistas ressaltam que o movimento vai além da burocracia. Segundo o sociólogo Alex Vargem, a iniciativa ajuda a resgatar identidades apagadas pelo tráfico transatlântico: “Os afro-brasileiros sabem que vieram da África, mas raramente conhecem de onde. Isso toca feridas abertas do período da escravidão.”
A cidadania permite morar no país e obter passaporte beninense, oferecendo uma conexão simbólica e cultural com as próprias raízes africanas, mesmo sem direito imediato a voto, que exige residência mínima de cinco anos.
Informações: BBC