A educação brasileira ainda deve sofrer fortes impactos negativos gerados pela falta de aulas nas escolas em todo o território nacional, em especial nas regiões mais pobres. Depois de 14 meses de pandemia, os estados que já tinham um percentual alto de abandono ainda não reabriram suas escolas.
É o que revelam os dados do Indicador de Permanência Escolar, lançado nesta segunda-feira (31) pelo instituto Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional). Alguns estados que continuam sem aulas presenciais já estavam com um terço dos jovens fora da escola, e a situação causada pela pandemia deve agravar ainda mais esse cenário.
% de jovens de 16 e 17 anos que não estão mais estudando
A metodologia utilizada pelo Iede é diferente em relação a outros indicadores. Em vez de pegar um percentual apenas do ano anterior, o Indicador de Permanência Escolar consegue acompanhar o percurso dos alunos.
“Esse método traz uma discussão mais completa sobre a educação, com um olhar para o Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que mede a qualidade do aprendizado no país. O acompanhamento é feito por geração. Agora, estamos analisando a situação, por exemplo, dos nascidos em 2003. Dessa forma, conseguimos pensar em ações de atendimento e permanência para ajudar a gestão da escola”, afirmou Ernesto Faria, diretor do Iede.
A realidade de milhares de jovens brasileiros nesta faixa etária traz uma combinação perigosa para a educação do país. São potenciais estudantes que estão se deparando com escolas fechadas e, ainda, com a perda de renda de suas famílias. Os dois fatores fazem com que o jovem precise deixar os estudos para trabalhar e colocar dinheiro dentro de casa.
Desigualdade
Esse cenário potencializa a desigualdade e revela que a pandemia atinge de forma mais cruel os vulneráveis. “A principal estratégia para minimizar o abandono é a proximidade, isto é, a capacidade de a escola acompanhar o estudante para articular e sistematizar as informações sobre a realidade dele. O impacto em relação à desigualdade tem sido brutal”, afirmou Faria.
Um dos riscos que o abandono e a falta de aulas podem causar é a cultura da reprovação e da repetência. Segundo Ernesto Faria, as escolas podem reprovar os estudantes nos próximos anos por um nível baixo de aprendizagem dos alunos. E o abandono pode aumentar ainda mais.
“Precisamos dar suporte e fortalecer as redes para ajudar na gestão da escola e na tomada de decisão sobre o futuro dos estudantes. Secretarias municipais e estaduais, além do governo federal, precisam dar o suporte, em especial para os municípios pequenos”.
Futuro da educação
Sobre o futuro da educação nesta perspectiva de jovens fora das escolas, Faria diz que é difícil fazer uma estimativa. Porém, o percentual médio do Brasil, que hoje está em 18% de alunos fora das escolas, pode chegar a 30%.
Outro problema que o fechamento das escolas pode causar é o abandono também nos anos iniciais, de crianças entre 5 e 12 anos, situação que o Brasil já havia superado. Contudo, quando o assunto é a reabertura das escolas, Faria é cuidadoso.
“Não adianta voltar as aulas presenciais sem um diálogo com os professores, sem estrutura sanitária e vacinação. As redes de ensino deveriam ter bons mecanismos de gestão para registrar quais alunos estão fazendo as atividades e participando das aulas. Isso já ajudaria muito a curto prazo. A solução imediata para evitar o abandono não precisa esperar as vacinas, mas as escolas, mesmo de forma on-line, precisariam ter proximidade de seus alunos”.