Notas de Rodapé – me pegaram

por Fernando Pompeu

Eu sei. Você vai se fartar de ler sobre os modernistas durante este 2012. Boa parte do jornalismo vive de efemérides, e a Semana de Arte Modena está completando noventa anos. Ocorre que algumas das personagens, ligadas direta ou indiretamente à Semana, seguem vivas no que eu faço e, provavelmente, no que você faz.

Por exemplo, toda vez que a gente escreve curto, ou somos irreverentes com a semântica e a sintaxe, tem a ver com Oswald de Andrade (1890-1954). O bruxo-mor do modernismo escreveu o bem-humorado e bem pensado Manifesto Antropófago. Nele, a providencial advertência: “A alegria é a prova dos nove.”

Toda vez que levamos a sério a pesquisa da arte popular, ou nos apaixonamos pelo café de São Paulo e o leite de Minas, ou somos generosos com jovens e velhos poetas, estamos evocando Mário de Andrade (1893-1945). É dele o Paulicéia Desvariada e o Macunaíma – herói sem nenhum caráter.

Sei que é raro, mas quando criamos frases encantadas, ou quando viramos crianças que escrevem bem, o anjo da guarda é Manuel Bandeira (1886-1968). O recifense do: “Teadoro, Teodora” e da Irene que não precisou pedir licença para entrar no céu.

Nos momentos em que nos tornamos seríssimos e, apesar disso, poetas. Ou no momento em que acreditamos ser possível transformar a vida com a força das palavras, o grande mestre é Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Aquele que bolou o slogan do modernismo: “Stop / a vida parou / ou foi o automóvel?”

Também quando juntamos militância com poesia, feminismo com boa prosa, irreverência com vida, a musa é Patrícia Galvão, a Pagu (1910-1962). Jornalista e autora do Parque Industrial – uma beleza de história, hoje caída no esquecimento mas que de repente pode ressurgir e encantar a moçada.

Não esquecer jamais dos herdeiros de 1922. Muito inspiradores, como os tropicalistas, os concretistas, os do Teatro Oficina. Lembrar sempre do herdeiro Paulo Leminski (1944-1989), poeta de alta grandeza. Sujeito que sintetizou com precisão o desafio da escrita atual: “Que a estátua do rigor e a estátua da liberdade velem por todos nós.”

Apesar das nove décadas da Semana, e de suas personagens terem partido desse mundo, o espírito modernista segue nas ruas, nos grafites, nas redes sociais, em nós. Ele ressuscita toda vez que nos entediamos com os textos de terno e gravata, com a verborragia dos poderosos, com a pompa e circunstância da prosa oficial.

Post-Scriptum: Notem que há muitos Andrades entre os modernistas: Oswald, Mário, Carlos. Conto a vocês, sem me comparar, mas orgulhosa com isso, que também sou uma Andrade. Está na minha certidão de nascimento: Fernanda Andrade Pompeu.

fernanda pompeu, escritora e redatora freelancer, colunista do Nota de Rodapé

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