Depois da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, no interior de São Paulo, ver alunos envolvidos com menções à seita racista Klu Klux Klan, agora foi a vez de estudantes da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puccamp) serem alvo de uma investigação. A razão foi uma série de postagens racistas na página Direito PUC Campinas.
Por Thiago de Araújo Do Brasil Post
Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo, um estudante do 1º ano de Direito que teria sofrido ofensas racistas no Facebook. A polêmica postagem foi feita no final do mês passado na rede social.
Em uma discussão sobre divisão por gênero nas aulas de futebol, um aluno negro defendeu uma estudante e foi recebido com montagens que envolviam imagens da Ku Klux Klan e piadas com negros. O tópico foi excluído pelos administradores da página depois da polêmica. A discussão, no entanto, foi registrada em fotos (prints) feitas por alunos que acompanharam o episódio. Os alunos negam racismo e afirmam que se tratava de uma “brincadeira”.
O Centro Acadêmico de Direito da universidade publicou nota em repúdio ao episódio. “Machistas, racistas, homofóbicos, não passarão! O discurso de ódio disfarçado de ‘piada’ e ‘brincadeira’ naturalizou, deu aval e legitimou muitas atrocidades na história da humanidade”. O CA, no mesmo texto, compartilhou uma nota publicada pelo próprio estudante. De acordo com o texto do aluno, os estudantes consideravam as postagens uma ‘brincadeira’ e não racismo.
“Eles brincam com a minha etnia de modo depreciativo, eles usam imagens extremamente simbólicas como a do Ku Klux Klan, eles ignoram qualquer processo histórico ou cultural, eles riem enquanto eu choro e ainda querem definir o que sofro ou não? (…). A história da minha etnia não é humor. As consequências sociais da nossa história não é um passatempo. Minha melanina não é motivo para hipersexualização. Não há graça nem humor em toda essa história e sim uma juventude problemática, hipócrita e cronicamente racista. Seu mimimi é a nossa história, seu vitimismo a nossa dor.”
Em nota, a Puccamp ressaltou que a única página administrada pela universidade na rede social é a facebook.com/puccampinas. A instituição não confirmou se já encontrou algum aluno responsável pelas imagens ou se haverá alguma punição.
Histórico de violência deve chegar ao Papa Francisco
Ao lado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a Puccamp foi uma das mais citadas durante os trabalhos da CPI dos Trotes nas Universidades Paulistas, realizada entre dezembro e março deste ano naAssembleia Legislativa (Alesp). Em janeiro, alunos da instituição estiveram na capital paulista e fizeram relatos assustadores sobre episódios de violência praticados contra calouros.
Na Faculdade de Medicina da Puccamp, os ‘bixos’ (apelido pejorativo dado aos calouros) precisam passar por algumas atividades padronizadas e recorrentes, comodecorar hinos que fazem ode ao estupro e agressão física, levar socos no esterno (osso localizado no tórax), tomar tapas na cara, simular sexo oral com banana e andar numa piscina de urina, fezes e vômito.
“Fui obrigado a decorar sete hinos em uma noite, sob risco de retaliação”, explicou um aluno aos deputados na época. As ‘músicas’ da bateria da faculdade atendiam por nomes como Amassa Amassa, O Eixo, A Vadia da Puccamp, e O Caralho, considerada “um clássico” pelos veteranos e que tem conteúdo explicitamente sexual, alusivo ao estupro anal.
Também na Puccamp, uma aluna negra da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo relatou no ano passado ter sido vítima de racismo desde 2012, e que nada jamais foi feito contra os seus agressores.
No relatório final da CPI, os deputados pediram a ação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em todos os casos relativos, entre outras universidades, à Puccamp. Além disso, foi orientado que uma cópia do relatório fosse enviada ao Vaticano, para que o Papa Francisco tomasse conhecimento das violações de direitos humanos em instituições ligadas à Igreja Católica.