O cara é bem-intecionado. Quando acerta é porque só quer fazer o melhor. O seu melhor. Se erra, não é por mal. É por muita vontade de acertar.
por Mauro Cezar Pereira, do ESPN
Esse cidadão bem-intencionado é colocado numa função para a qual não tem preparo. A ele falta experiência, cultura, habilidade no trato com o ser humano.
Mas é bem-intecionado. Então, vamos lá, torçamos por ele, esperemos que consiga se superar, como se superou em outros momentos em sua dura trajetória.
Além de bem-intencionado, é lutador. Já foi massacrado publica e injustamente. Levou fama sem culpa e virou sinônimo de um fracasso que era muito mais dos outros.
Logo perceberam que ele era bem-intencionado já naqueles tempos, e deu a volta por cima. Inegável que se tornou um vencedor. Foi além do que parecia possível.
Bacana quando se vê uma história assim. Mas o fato de ser bem-intencionado e ter seus momentos de superação e glória não habilitam ninguém a tudo.
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Certas posições exigem mais do que boa intenção. É preciso conhecimento, não só daquilo que é o objeto do trabalho, mas no geral. Uma visão mais ampla.
Mas e quando o sujeito bem-intencionado, aparentemente sem querer, sem má intenção, claro, atinge pessoas com uma frase infeliz? O que fazer?
Se não colocassem o bem-intencionado ali por ser bem-intencionado, isso não aconteceria. Não haveria diálogo público, não saberíamos o que de fato acha.
Talvez, sozinho em seu canto, o bem-intencionado até pensasse exatamente o que diz para quem quiser ouvir, ou não. Mas ficaria ali, apenas para ele.
Nem mesmo os que admiram o bem-intencionado e sua história de luta deveriam ser obrigados a compartilhar certas reflexões(?). Constrangedor.
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Como é constrangedora a defesa incondicional a ele, o bem-intencionado. Inclusive do séquito de vassalos que só querem bajulá-lo por causa da função que hoje ocupa.
Sorte do bem-intencionado que nem mesmo o maior dos aduladores parece capaz de seduzí-lo. É que além de bem-intecionado, ele é desconfiado. E nisso faz bem.
O inferno está cheio de boas intenção, sabe-se. Mas não se pode tolerar alguém posar de vítima usando como paralelo o martírio de um povo. Mesmo com boas intenções.