O fascismo bate à porta dos brasileiros

Cresce o racismo, o ódio político e a intolerância religiosa

por Fábio Sérvio no Capital Teresina

A atual disputa política faz surgir das cinzas um Brasil que se pensava superado desde a década de 60. A velha guerra entre a direita e a esquerda voltou à cena, decepcionando aqueles que vaticinaram o fim do posicionamento ideológico dos partidos políticos brasileiros. A passos largos, caminhamos para um beco obscuro onde membros de um partido político são jogados numa vala comum.

Dedos em riste para alguns, parte dos envolvidos em escândalos nacionais é poupado das duras críticas. A denominação “petista” ganha uma aura negativa, alimentada pelo ódio de origem desconhecida mas disseminado à luz do dia. Apoiadores são ameaçados de morte. Gestores são atacados verbalmente em restaurantes. Declarações de racismo invadem as redes sociais. O Brasil mergulha numa era de fascismo?

 

Extremismo

“Vamos matar todos os petistas e pendurar seus corpos na paulista”. Comentários como esse, publicado no blog Cidadania de Eduardo Guimarães e denunciado pelo blogueiro na última segunda-feira (6) inundam as redes sociais. Mas as ameaças ultrapassam os limites virtuais.

A semana que passou trouxe a notícia da distribuição de adesivos colocados na entrada de tanques de combustível onde o rosto da presidente Dilma Rousseff aparece numa montagem de uma mulher com as pernas abertas sendo penetrada por mangueiras de combustível.


IGOR-GILLY


Em sua visita aos EUA, Dilma foi agredida e chamada de assassina por um jovem brasileiro residente naquele país. Igor Guilly, defensor do deputado ultraconservador Jair Bolsonaro (PP-RJ) nas redes sociais, burlou a segurança presidencial e ficou a poucos metros da presidente.

Ainda no último mês de junho, o apresentador Jô Soares teve a rua de sua residência pichada com uma ameaça: “Jô Soares, morra”. Seu programa havia produzido uma entrevista com a presidente Dilma Rousseff.


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Há uma semana, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi atacado verbalmente quando almoçava num restaurante em São Paulo. Era a segunda vez.

Menos agressivo, um “manifestante” abordou o atual ministro da Fazenda, constrangendo Joaquim Levy diante de dezenas de pessoas que também estavam num restaurante. O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também já passaram por constrangimentos em público na capital paulista.

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Atribuir aos mais de 1,5 milhão de filiados do PT uma condenação pelos problemas brasileiros é uma generalização que a história já demonstrou ser a mais perigosa das ferramentas políticas de segregação.  Pode haver um certo exagero na afirmação, mas ele é necessário para alertar até onde essa onda de fascismo pode levar o Brasil.


GUIDO-MANTEGA


 

Racismo

Apresentadora do Jornal Nacional no quadro “previsão do tempo” Maju Coutinho foi vítima de racismo nas redes sociais no início deste mês. Citando uma música, ela respondeu, usando as redes sociais: “beijinho no ombro”.

 

Intolerância religiosa

 

Uma menina de onze anos foi apedrejada no Rio de Janeiro ao sair de um culto religioso de Condomblé. Kaylane, acmpanhada de oito religiosos, dentre eles sua avó de 53 anos, presencisou dois homens agredirem o grupo verbalmente. “Macumbeiros, vocês vão queimar no inferno”, proferiam. Num determinado momento, um dos homens jogou uma pedra que bateu num posto e atingiu a cabeça da criança. A roupa branca ficou manchada de sangue e as páginas dos jornais pela intelerância religiosa exposta. É o retrato da intolerância no país do sincretismo religioso.


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Foto: Jornal O Globo


 

Onda fascista

Scipio Sighele, um jornalista, criminalista, sociólogo e estudioso político, em A Multidão Criminosa, levantou a questão de como uma multidão seria capaz de transformar um cidadão pacato em um crimino intolerável e cruel.

Publicado pela primeira vez no século XIX, décadas antes do Nazismo tomar conta da Alemanha, do Fascismo corromper a Itália, e do stalinismo enlutar a antiga União Soviética, o livro trata da psicologia coletiva e consegue explicar, com as necessárias atualizações da sociologia moderna, como aquelas nações mergulharam na escuridão política.

Os casos acima não estão dissociados. Eles refletem a onda de fascismo que varre o Brasil. Seja na intolerância religiosa, no preconceito racional  ou na disputa política, o ódio está proliferando nas mentes expostas ao borbadeio midiático estratégico e despreparadas para uma leitura complexa dos fatos.

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