Por: Arísia Barros
O semblante ainda é de abatimento. A perda de sua amiga e produtora do Papel Varal , a Tayra, ainda é peso emocional a ser suavizado pelo tempo. O poeta, Ricardo Cabús ainda acampa entre lembranças da menina e os outros dias que virão.
E nos confessa que apesar da dor fez questão de participar do I Festival das Palavras Pretas, pois entende que os caminhos da poesia sempre precisam de parceria , a agregação de forças, para serem ladrilhados.
Obrigada Ricardo Cabús pela tua participação parceira. Foi a partir da vivência do Papel Varal, do 15 de outubro, no Bar do Chopp, que pensamos em desbravar o silenciar da literatura em relação a poesia de Áfricas e negra e aí surgiu o I Festival das Palavras Pretas.
Obrigada pelas possibilidades de novos significados e da essência da palavra poética.
Após compartilhar uma mesa com outro mestre, o grande Chico de Assis, Ricardo nos brindou com a leitura da tradução feita por ele, do poema “Um Grito Distante da África,” do poeta africano, Derek Walcott.
Um grito Distante da África
Derek Walcott
Tradução: Ricardo Cabús
Um vento está eriçando a pele morena
Da África, Kikuyu, rápido como moscas,
Deleitando-se na corrente sanguínea da savana.
Cadáveres são espalhados por um paraíso.
Apenas o verme, coronel da carniça, grita:
“Não tenham compaixão com estes mortos isolados!”
As estatísticas justificam e os estudiosos apreendem
As saliências da política colonial.
O que é isso para a criança branca mutilada na cama?
Para selvagens, dispensáveis como judeus?
Esmagados por agressores, os longos ataques irrompem
Em uma nuvem branca de íbis cujos gritos
Ecoam desde o amanhecer das civilizações
Do rio ressequido ou de planícies repletas de animais.
A violência entre as feras é entendida
Como uma lei natural, mas o homem ereto
Busca sua divindade infligindo dor.
Delirantes como estas bestas atormentadas, suas guerras
Dançam ao som agudo de um tambor,
Enquanto ele ainda chama coragem esse medo nativo
Da paz branca conquistada através dos mortos.
De novo, a necessidade estúpida limpa suas mãos
No guardanapo de uma causa suja, de novo
Um desperdício de nossa compaixão, como com a Espanha,
O gorila luta com o super-homem.
Eu que estou envenenado com o sangue de ambos,
Para onde devo seguir, com a veia dividida?
Eu que tenho xingado
O funcionário britânico viciado, como escolher
Entre esta África e a língua inglesa que eu amo?
Trair ambas ou devolver o que elas dão?
Como posso enfrentar tal massacre e ficar bem?
Como posso abdicar da África e viver?
Fonte: Cadaminuto