O posicionamento da diretora de marketing da L’Óreal sobre jantar de Donata Meirelles

Em seu twitter, Shelby Ivey Christie‏ classificou jantar como “repugnante”

Do HuffPost

Shelby Ivey Christie criticou nas redes sociais jantar promovido por diretora da Vogue Brasil. (Reprodução/Twitter)

Shelby Ivey Christie, diretora de Marketing da LÓreal e ex-executiva de vendas da edição norte-americana da revista Vogue, classificou o jantar em comemoração dos 50 anos de Donata Meirelles, diretora da Vogue Brasil, como “repugnante”.

“A diretora da Vogue Brasil, Donata Meirelles, escolheu um tema muito repugnante para seu aniversário de 50 anos”, escreveu Christie em seu perfil do Twitter, ao publicar uma das imagens do jantar.

Nela, a aniversariante está sentada em um trono ao lado de duas mulheres negras com roupas que remetem às vestimentas da época colonial.

 

“Parece que a escravidão brasileira foi o tema. Mucamas (escravas de casa), foram colocadas como adereços ao lado de convidados”, ela descreve na rede social.

Donata Meirelles comemorou seus 50 anos em um jantar luxuoso no Palácio da Aclamação, em Salvador (BA), na última sexta-feira (8).

O evento está sendo apontado como racista por especialistas e ativistas ao trazer a atmosfera da época escravocrata e colonial do Brasil.

Em uma sequência de tuítes, Christie usa imagens do passado para explicar porque o traje das mulheres negras são como o das mucamas.

 

“O uniforme das ‘mucamas’, escravas que trabalhavam dentro da Casa Grande, geralmente eram feitos de linho branco ou de algodão”, afirma. “Os vestidos brancos e turbantes não são coincidência”.

A diretora relembra que só em 1888, quase no século XX e menos de 150 anos atrás, a escravidão foi abolida no País. “O Brasil, e não a América, tem a maior população de pessoas de vida decente africana fora da África”, disse.

A repercussão negativa e o pedido de desculpas

Na tarde do sábado (9), Donata Meirelles publicou uma foto do arranjo de rosas brancas da festa e explicou que “não era uma festa temática”, que as roupas usadas “não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa” e pediu desculpas se “causou uma impressão diferente”.

“Mas vale também esclarecer: nas fotos publicadas, a cadeira não era uma cadeira de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa. Ainda assim, se causamos uma impressão diferente dessa, peço desculpas. Respeito a Bahia, sua cultura e suas tradições.”

 

Visualizar esta foto no Instagram.

 

Ontem comemorei meus 50 anos em Salvador, cidade de meu marido e que tanto amo. Não era uma festa temática. Como era sexta-feira e a festa foi na Bahia, muitos convidados e o receptivo estavam de branco, como reza a tradição. Mas vale também esclarecer: nas fotos publicadas, a cadeira não era uma cadeira de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa. Ainda assim, se causamos uma impressão diferente dessa, peço desculpas. Respeito a Bahia, sua cultura e suas tradições, assim como as baianas, que são Patrimônio Imaterial desta terra que também considero minha e que recebem com tanto carinho os visitantes no aeroporto, nas ruas e nas festas. Mas, como dizia Juscelino, com erro não há compromisso e, como diz o samba, perdão foi feito para pedir.

Uma publicação compartilhada por donatameirelles (@donatameirelles) em


Após a repercussão negativa das imagens do evento, alguns leitores da revista começaram a marcar a edição norte-americana da Vogue nas redes sociais, pedindo posicionamento da publicação. Ativistas e recuperaram imagens da época da escravidão para explicar por que o jantar foi problemático.

″É isso que se chama racismo estrutural! Um racismo tão enraizado que parece invisível. Mas não é. Muito triste esse nosso país que cria essa falsa nostalgia de um passado romântico que jamais existiu”, escreveu a historiadora Lilia Schwarcz e autora de O Racismo e o Negro no Brasil, em seu perfil do Instagram.

“O dia a dia da escravidão foi duro e violento. Não há da para comemorar ou celebrar. Melhor é refletir e mudar. Todos juntos”, finalizou a especialista.

“Vivemos na tal escravidão moderna, onde nossas dores viram fantasias, decoração de festas para beneficiar o mal gosto das sinhás e sinhóres”, escreveu a cantora e ativista Preta Rara também em seu perfil do Instagram.

As comemorações dos 50 anos da diretora começaram na sexta (8), e continuam ao longo do fim de semana.

No primeiro evento, Caetano Veloso fez uma apresentação. Ontem, sábado (9) ela recebeu convidados no restaurante Amado, também em Salvador, com shows de Preta Gil e Ivete Sangalo. Já neste domingo (10), Gilberto Gil comandará o evento final.

Até o momento nenhum dos artistas comentou o assunto.

 

Leia Também:

https://www.geledes.org.br/a-cadeira-da-foto-da-socialite-sinha-segundo-um-antropologo/?utm_medium=ppc&utm_source=onesignal&utm_campaign=push&utm_content=onesignal#

+ sobre o tema

Tânia Soares critica delegado por não atuar em crime de racismo

Fonte: Portal Vermelho- A deputada estadual Tânia Soares, PCdoB, condenou...

Racismo atrapalha combate eficiente ao coronavírus, afirma médica

“Não falariam de economia se doença não matasse mais...

Debate sobre o genocídio negro reúne Leci Brandão e movimentos sociais

O 62º Conselho Nacional das Entidades Gerais (Coneg) consolida...

para lembrar

Política, imaginário e representação: uma nova agenda para o século XXI?

“O fato é que, enquanto mulher negra, sentimos a...

Após 2 anos, loja da BMW acusada de racismo é condenada no Rio

'Aqui não é lugar para você. Saia', teria dito...

Afropotências: Não só luta contra o preconceito, mas poder para o povo preto!

Uma negritude protagonista, com poder para ser o que...

#somostodosmacacos foi criado por agência de publicidade

A atitude de Neymar após ato racista contra Daniel...
spot_imgspot_img

Justiça decreta prisão preventiva de PM que atingiu jovem em São Paulo

O policial militar Tiago Guerra foi preso em flagrante e encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes, onde cumpre prisão preventiva decretada pela Justiça paulista,...

A maldição da eterna introdução

Discursos não são livres. Assim pontuou Michel Foucault em um dos seus principais textos, de 1971. Há estruturação, angulação, filtragem e mecanismos específicos para limitar e...

Processos por racismo aumentam 64% no Brasil em 2024, mas punições demoram e são brandas

Para a gerente de uma pet shop de Salvador, Camilla Ferraz Barros se identificou como juíza, disse que poderia prendê-la e a chamou de...
-+=