O que Obama precisa aprender com o atentado a bomba

O atentado do Natal foi o primeiro encontro mais íntimo do governo Obama com um espetáculo terrorista dentro de casa. E a maneira como lidou com o medo deixou algo a desejar. Muitas das reclamações feitas contra o presidente foram injustas e algumas, ridículas – mas a equipe de Obama forneceu material de qualidade aos críticos.

  • Imagem sem data divulgada pelo jornal jordaniano Al-Ghad mostra Humam Khalil Abu-Mulal al-Balawi, agente triplo que matou sete agentes da CIA no Afeganistão em 30 de dezembro de 2009

O episódio seguiu um padrão agora conhecido. A resposta do governo foi no geral pragmática e defensiva. Mas também pareceu improvisada e hesitante, e não estava de acordo com as mensagens anteriores da Casa Branca. A reforma da saúde e a reação à crise financeira seguem o mesmo padrão. O esquema do Natal foi um novo déjà vu.

As autoridades cometeram erros crassos nos momentos que seguiram o ataque. Quando Janet Napolitano, secretária de Segurança Interna, disse que o “sistema funcionou” – os erros na coleta de informações sobre o homem-bomba, incluindo os avisos de seu pai à embaixada norte-americana, já eram conhecidos – o governo entrou em apuros instantaneamente. Então o diretor do Centro Nacional de Luta contra o Terrorismo, criado após o 11 de setembro para fazer com que as inúmeras agências de segurança do país trabalhem juntas, saiu de férias logo depois do ataque. O presidente também estava viajando e a princípio permaneceu em silêncio. A necessidade de reverter os erros pesaram sobre o governo e distorceu a resposta que veio a seguir.

O território norte-americano não sofreu nenhum outro grande ataque desde o 11 de setembro – graças, em parte, à revisão do sistema de segurança, apesar de todas as falhas reveladas pelo recente incidente. Mas a consequência é que os Estados Unidos não aprenderam a conviver com o terrorismo como deveriam ter feito um dia. Agora, a sensação de segurança é exageradamente alta. As pessoas acreditam que se o sistema é bem desenhado e os oficiais fazem o seu trabalho, os inimigos não entrarão.

Muitos críticos acusam o governo de reforçar essa noção ingênua com medidas que serão mais inconvenientes para a população do que para os homens-bomba e de atrair hostilidade contra os Estados Unidos: grandes listas de suspeitos e de pessoas proibidas de viajar; “escaneamento mais rigoroso” das pessoas que vêm de 14 países ou passam por eles; mais revistas aleatórias nos aeroportos e por aí vai. Segundo esse ponto de vista, tudo isso tem pouco ou nenhum valor, além de ser desonesto. O risco já é minúsculo e nunca poderá ser reduzido a zero

Em um pronunciamento na última terça-feira, 05 de janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que as forças de inteligência tinham informações suficientes para descobrir com antecedência o plano para explodir um avião a caminho do país no dia de Natal, mas que falharam em “ligar os pontos”. Obama também comentou sobre a fragilidade dos aeroportos do país e a da pressão que o governo norte-americano exercerá para que o mundo melhores a segurança de seus voos rumo ao país.

Algumas pessoas defendem que a decisão de suspender as transferências da prisão de Guantánamo para o Iêmen é outra reação exagerada. Segundo eles, Guantánamo é propaganda grátis para os inimigos dos norte-americanos e, se esse é o resultado, adiar ainda mais seu fechamento é um erro.

Do lado oposto estão as reclamações republicanas de que o governo é muito mole com o terrorismo. Eles dizem que o presidente não quer declarar guerra e que sua timidez está deixando o país de mãos atadas. Em vez de manter Umar Farouk Abdulmutallab na prisão militar como um inimigo de combate, ele foi tratado como um criminoso comum, ouviu seus diretos e ganhou um advogado. Ele entrou em silêncio e declarou-se “inocente”. É o suficiente para causar um derrame em Dick Cheney. E a maioria dos americanos parece concordar.

E há aqueles que dizem que Obama falhou ao não responsabilizar ninguém pelos erros que descreveu tão detalhadamente na semana passada. Por que ninguém foi mandado embora? Essa é uma boa pergunta. A ideia de responsabilizar os sistemas, como o presidente diz preferir, não significa nada a não ser que as pessoas que os dirigem também sejam responsabilizadas. As agências não estão se comunicando de modo eficiente. Segundo Obama, não está claro de quem é a responsabilidade de “liderar em caso de ameaças de alta prioridade”. Por que não? Os Estados Unidos certamente precisam consertar isso, mesmo que a segurança perfeita seja uma ilusão.

Já em relação às acusações de reagir exageradamente, seria um suicídio político para Obama se ele parecesse tão tranquilo sobre os riscos e os custos do terrorismo quanto seus críticos defensores das liberdades civis costumam ser. Não fazer nada não era uma opção. Mesmo assim, se ele tivesse reagido mais rapidamente (e se Napolitano não tivesse dito o que disse), ele poderia estar sob menos pressão para dar uma de durão. Ele pode não ter achado necessário tantos aumentos desnecessários na segurança ou oferecer garantias tão falsas. O atraso e o aparente vacilo o obrigaram a se curvar.

Por outro lado, a acusação republicana de que Obama pega leve com o terrorismo é tão absurda quanto. Veja a escalada no Afeganistão; o programa de ataques aéreos com aviões teleguiados nas fronteiras do Paquistão; o atraso nos planos de fechar Guantánamo (anterior ao ataque do Natal); a afirmação de força ao manter prisioneiros sem acusações indefinidamente; e muito mais. Com tudo isso, ele continua o caminho definido por George W. Bush. Sem dúvida ele preferiria o contrário, mas durante a campanha viu que suas chances eram menores do que acreditava: de novo a distância entre as palavras e os atos.

Mas Obama precisa inovar urgentemente em um aspecto da política de segurança. É difícil de acreditar que, oito anos depois do 11 de setembro, os Estados Unidos ainda não tenham uma lei antiterrorismo que permita que suspeitos sejam presos para longos interrogatórios antes de serem acusados. Do jeito que as coisas estão, as autoridades tiveram que escolher entre mandar Abdulmutallab para a prisão militar como um inimigo de combate ou acusá-lo como um criminoso comum.

Obama precisa exigir do Congresso uma lei que ofereça o meio termo. A guerra contra a Al Qaeda, como Obama a denomina, não é uma guerra comum – especialmente quando travada contra os cidadãos norte-americanos, como ainda poderá ser. Mas a Al Qaeda também não é uma organização criminosa comum. A lei deveria ser modificada imediatamente para refletir esse fato.

Fonte: Folha de São Paulo

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