Dois casos semelhantes de racismo chocaram o País no começo de 2013. Um em uma farmácia, quando um menino negro, de 11 anos, foi interpelado por um dos funcionários da loja, que não percebeu que o garoto estava acompanhado pela avó e começou a perguntar se aquele “negrinho” estaria incomodando. Outro na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, quando o consultor Ronald Munk, e a mulher Priscilla Celeste denunciaram que seu filho mais novo, de sete anos, foi vítima de racismo na concessionária BMW Autocraft. O menino negro é filho adotivo do casal. Os pais relatam que enquanto conversavam com o gerente de Vendas da concessionária sobre a compra de um novo carro o filho, que estava distante, se aproximou e foi enxotado pelo gerente. Em seguida, o funcionário voltou para o casal e justificou a atitude com a seguinte frase: “eles pedem dinheiro, incomodam os clientes”.
por Gustavo Nascimento Do Diário de Cuiabá
O que choca na semelhança dos casos não é o racismo em si, e sim o fato das pessoas que o cometeram sequer terem enxergado que estavam sendo racistas.
Este é um problema histórico do Brasil, diferentemente de outras regiões em que o racismo é escancarado. Aqui, não é! Ele está em camadas tão profundas, que o racista não se vê como um. Quando se sabe contra quem está lutando, a briga se torna mais fácil. O problema é quando se tem um preconceito velado, escondido até mesmo dos próprios detentores do mesmo. Acabamos achando normal expulsar uma criança negra de uma loja, pois ela provavelmente seria um pedinte.
Você já deve ter ouvido frases assim: “esse é um preto da alma branca”, “ele é pretinho, mas é gente boa”, ou então algo como “que negra bonita!” Por que nunca ouvimos algo como “ele é branco, mas é de confiança?” Ou então, “que branca bonita?”
A primeira vez em que fui parado pela polícia tinha nove anos de idade. Estava com um saco de pão que havia buscado na padaria quando fui abordado, sempre de maneira ‘gentil’, pelos policiais. O cartão de visita foi o de sempre: “Mão na cabeça, neguinho safado”, e um chute no tornozelo para eu abrir as pernas para a revista.
Tente explicar para uma criança que isso é “normal”? Bem, é se você nascer preto. Não deveria ser! Lutamos para que deixe de ser, mas ainda assim o é. A única forma de se vencer essa luta é escancarando esse racismo e o retirando das entranhas da nossa cultura. Como? Bem, diferentemente de fingir ou afirmar que no Brasil não existe preconceito. Devemos combatê-lo de toda e qualquer forma, seja nas novelas, no trabalho ou no falar do nosso cotidiano! Enquanto identificarmos uma pessoa pela cor, não teremos superado esse problema!