O sonho do meu pai não se realizou, diz filho de Martin Luther King

Enviado por / FontePor Carla Ruas, do Terra

No seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”, proclamado em 1963 em Washington DC, Martin Luther King Jr. imaginou um dia em que todos os americanos seriam iguais. Mas segundo o seu filho mais velho, este dia ainda não chegou. Martin Luther King III, que herdou o nome e o legado do seu pai, conversou com o Terra em meio às comemoracoes do aniversario de King, que faria 83 anos no dia 15 de janeiro.

Segundo ele, se seu pai estivesse vivo, estaria descontente com o atual momento politico nos Estados Unidos e ainda lutando por um país mais igualitário. “O sonho do meu pai ainda nao se realizou. Temos um longo caminho a percorrer. As decisões continuam sendo tomadas para beneficiar o 1% de ricos da população”, lamentou.

Como exemplo, citou os projetos de lei que pretendem restringir os direitos de voto nas eleições presidenciais de novembro. As iniciativas incluem a obrigatoriedade da apresentação da carteira de motorista no dia de votação, o que limitaria a participação de negros e latinos. “Todos deveriam ter o direito de votar. Foi para isso que meu pai lutou”, disse, se referindo a Lei dos Direitos de Voto, conquistada por King em 1965.

Neste ano eleitoral, King provavelmente também se pronunciaria pedindo aos candidatos mais atenção à população negra, seu principal foco enquanto militante dos Direitos Civis. “Há uma quantidade desproporcional de negros atrás das grades porque tem alguma coisa errada com o sistema”, afirmou. Para ele, a solução é dar maior incentivo a educação, já que há também alto índice de abandono escolar entre jovens negros.

E ao presidente eleito (ou reeleito), King pediria mais seriedade na forma de fazer política. Sua voz se juntaria ao coro de críticas que acusam tanto Democratas quanto Republicanos de se ocuparem excessivamente de jogos políticos ao invés de trabalharem para a população. “É ótimo que temos esses dois partidos, mas ao invés de ficarem brigando, meu pai diria que eles têm que caminhar juntos e para a frente”.

Se não tivesse sido morto em 1968, num assassinato até hoje marcado por incertezas, King certamente teria exposto suas opiniões sobre diversos outros assuntos polêmicos nos Estados Unidos. Provavelmente desaprovaria as longas guerras do Iraque e Afeganistão, já que foi veementemente contra a Guerra do Vietnã. Possivelmente criticaria o dinheiro gasto nos resgates bancários após a crise econômica e apoiaria os movimentos Occupy Wall Street, já que era entusiasta de mobilizações sociais.

Mas mesmo sem estar presente, seu filho acredita que ele ainda contribui com sua história de luta – que dá esperança para a sociedade americana. “Meu pai dizia que provavelmente não estaria vivo para ver as mudanças pelas quais lutava. Até parece que ele sabia que ia morrer. Mas é porque ele sabia que seu sonho era um sonho para o futuro.”

Martin Luther King III tinha 10 anos quando seu pai foi morto, mas teve a oportunidade de viajar com ele pelos Estados Unidos enquanto realizava campanhas pelos Direitos Civis em diversos estados. Hoje ele continua o legado como presidente do Centro Martin Luther King em Atlanta. O centro oferece diversas atividades para incentivar mudança social através da não violência, uma das marcas de Martin Luther King Jr..

 

Foto em destaque: Reprodução /Teresa Tomlinsson

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