por Antonio Carlos Arruda
A semana passada foi marcada pela grande repercussão e polêmica envolvendo o show de piadas Proibidão e a reação do músico negro Raphael Lopes, que mesmo trabalhando no evento como integrante da banda da casa noturna onde se realizou o stand-up chamou a polícia e deu publicidade ao caso por ter se sentido atingido moralmente quando numa “piada” foi comparado a um macaco.
Por dever de ofício fui envolvido diretamente na polêmica e dei diversas entrevistas para alguns dos mais importantes veículos de comunicação, contudo, não poderia deixar de manifestar, no meu espaço, o que o penso sobre o velho tema: racismo versus liberdade de expressão.
A liberdade de expressão, especialmente quando se trata de manifestação artística ou política é a mais importante exteriorização da democracia e orgulhosamente integro o grupo de brasileiros que enfrentou a ditadura militar para que ela fosse restabelecida integralmente no Brasil. Portanto, para essa garotada que hoje faz apresentações públicas, sou um dos milhões de brasileiros que se insurgiram a censura e ao impedimento da livre manifestação do pensamento.
Só que garantimos também que no Brasil a dignidade da pessoa humana seja um dos fundamentos do estado democrático de direito, de maneira tão importante e veemente, que ela foi colocada como a terceira alínea do artigo primeiro da Constituição Federal.
E mais, para comprovar a não aceitação de qualquer forma de discriminação ou racismo, repetiu-se tais mandamentos nos artigos 3º, 4º e 5º, exatamente nos títulos dos princípios (I) dos direitos e garantias (II) fundamentais onde também estão consagrados os direitos de liberdade de pensamento e de expressão a que se referem os realizadores do espetáculo para, inclusive, de maneira ilegal, exigir a assinatura da platéia em um documento em que, a rigor, aceitavam que seus direitos constitucionais fossem invalidados em relação ao que ali se realizava. Um absurdo!
Não se pode NUNCA, nem mesmo o seu titular, ainda que por documento, abrir mão da dignidade humana. Esta, como a vida é um direito indisponível.
E o que o vendedor de óleo de baleia tem a ver com essa questão?
Durante os séculos 18 e 19 a iluminação das ruas era feita com óleo de baleia e, certamente, havia muitas pessoas que se beneficiavam economicamente desse mercado, até que surgiram duas novas alternativas de iluminação: a gás e a querosene, que foram adotadas no Brasil e em muitos outros países.
De uma hora para outra o mercado de óleo de baleia acabou e os comerciantes desse produto que não se adaptaram as novas regras também se acabaram.
É assim o mundo. Os humoristas brasileiros que necessitam tripudiar sobre, raça, deficiência física, orientação sexual, entre outros, para mostrar a sua “arte” saibam que a nossa sociedade não mais aceita com passividade essa violência contra os direitos humanos e que já é hora de modernizarem suas lamparinas.
Se não tiverem competência para tal retirem-se e procurem os programas sociais de reinclusão profissional para que não corram o risco de serem encarcerados por racismo ou outra forma inaceitável de discriminação.
Fonte: Blog do Arruda