O ciclo de debates online “Juventudes em Ação para a COP30: Fortalecendo Vozes Afrodescendentes, Territórios e Impactos Globais”, promovido por Geledés – Instituto da Mulher Negra em parceria com Engajamundo, The Millennials Movement, Instituto Alana e Grupo NNAyJ LAC, ocorreu nos dias 8, 9 e 10 de outubro com o objetivo de fortalecer a presença das juventudes nas agendas internacionais sobre clima e desenvolvimento sustentável. O primeiro encontro, “ODS e Clima: Construindo sinergias entre as conferências globais”, reuniu lideranças jovens de diversos países e contextos socioculturais.
Na abertura, Ester Sena, mediadora e assessora internacional de Clima e Juventudes de Geledés, destacou que o ciclo busca conectar experiências locais às decisões multilaterais. “O objetivo é ampliar a participação das juventudes nos espaços internacionais relacionados à COP30 e às grandes conferências mundiais, fortalecendo a incidência de jovens afrodescendentes e de outras comunidades na agenda global do clima e do desenvolvimento sustentável”, afirmou.
Participaram Natália Tsuyama, do Engajamundo e integrante da Coalizão Feminista por Justiça Climática da ONU Mulheres; Antonio Palma Lopes, da Rede Latino-Americana de Pessoas com Deficiência e suas Famílias (RIADIS); Carolina Capitu, bióloga e analista de natureza do Instituto Alana; e Ari Panpittra Phutorn, ativista tailandesa e embaixadora estudantil do PNUD. O debate ressaltou a importância de alinhar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) às negociações climáticas globais, a partir de uma perspectiva interseccional, inclusiva e territorializada.
Antonio Palmas Lopes, representante da RIADIS, abriu a conversa lembrando que, sem incluir o tema da deficiência nas políticas climáticas, “estamos deixando fora em torno de 1,3 bilhão de pessoas no mundo, ou 15% da população”. Ele destacou que “uma de cada cinco pessoas que vivem em pobreza extrema é uma pessoa com deficiência” e que 80% dessas pessoas requerem serviços básicos, como saneamento e educação, mas não os recebem.
Para Lopes, “a crise climática aprofunda as desigualdades sociais e a pobreza”. Palmas Lopes enfatizou que “sem acessibilidade não há resiliência climática. Não somos vítimas da mudança climática, mas inovadores, líderes e defensores”. Defendeu ainda que a juventude com deficiência participe como cocriadora de políticas climáticas e que a COP30 assegure financiamento e acessibilidade. “A justiça climática não será real se não for inclusiva, e a inclusão não é real se não for financiada, legislada e regulada”, afirmou. E concluiu: “Sem juventude e sem juventudes diversas e interseccionais não há justiça climática. E sem justiça climática, nosso mundo não tem futuro.”
A tailandesa Ari Panpittra Phutorn, fundadora do projeto Voz da Diversidade, contou que criou a iniciativa para unir suas paixões por “empoderamento, igualdade de gênero, diversidade e moda sustentável”. “Mesmo você que é apenas uma pessoa, mas quer fazer mudanças — eu quero dizer — você pode começar”, disse. Ari defendeu que o ativismo pode começar em atitudes simples. “Quando pensamos em ajudar o mundo, não deve ser apenas sobre algo verde ou climático. Podemos começar com atitudes cotidianas, como as roupas que vestimos.”
Por meio do conceito WEAR — Wear Second Hand, Embrace Eco-Friendly Awareness and Action, and Reduce, Reuse, Recycle, ela usa a moda como ferramenta educativa. “A consciência e a ação individual são o início da mudança”, afirmou, defendendo que a moda sustentável pode “transformar o lixo em luxo” ao promover consumo responsável e combater preconceitos.
A bióloga Carolina Capitu, do Instituto Alana, destacou a urgência de proteger as infâncias diante da crise climática. “As crianças são um terço da população mundial e também as mais vulneráveis e vulnerabilizadas pela crise climática”, afirmou. “Elas respiram 50% mais ar por quilo corporal do que os adultos, o que significa maior exposição a doenças cardiovasculares e neurológicas. Hoje, 99% das crianças respiram um ar com nível de poluição acima do recomendado pela OMS.” Para ela, isso representa uma “extinção da experiência com a natureza”.
Capitu ressaltou a importância da interseccionalidade racial e de gênero nas políticas ambientais. “Enquanto não houver interseccionalidade racial, de gênero e de idade em todos os ODS, não chegaremos ao desenvolvimento sustentável, nem em 2030 nem além.” Defendeu ainda a criação de um 18º ODS sobre igualdade étnico-racial, lembrando que apenas 2,4% do financiamento climático global é sensível às infâncias. “Garantir prioridade absoluta a crianças e adolescentes nas políticas públicas é o caminho para termos não só um futuro, mas um presente diverso, onde possamos existir — e não apenas resistir”, concluiu.
Representando o Engajamundo, Natália Tsuyama afirmou que discutir clima é falar sobre “justiça climática e reparação histórica”. Ela lembrou que o Cerrado é o “berço das águas”, mas também um território de desigualdade e violência. “O Brasil é uma potência ambiental, mas as juventudes negras, periféricas, indígenas e quilombolas continuam sendo as mais afetadas pela crise climática e as menos ouvidas nos espaços de decisão”, disse. Para Tsuyama, a COP30 em Belém é uma oportunidade histórica. “É a primeira COP na Amazônia e no Sul global. Não vamos a Belém para mostrar soluções, mas para ouvir quem vive e resiste nos territórios ancestrais.”
Ativista da Women Gender Constituency e da Articulação Nacional Mulheres e Clima, ela enfatizou que a luta climática precisa ser feminista e antirracista. “Precisamos proteger quem protege o meio ambiente”, afirmou, lembrando que o Brasil é o país que mais mata defensores ambientais e ainda não ratificou o Acordo de Escazú. Tsuyama denunciou também a mineração predatória, a insegurança hídrica e a violência contra jovens ativistas. “A juventude está na linha de frente, denunciando a degradação e enfrentando ameaças. É urgente garantir mecanismos de proteção e financiamento direto para ações de juventude, especialmente de mulheres negras e indígenas”, defendeu.
Para ela, o desafio é transformar representatividade em poder real. “A juventude brasileira está cansada de ser tratada como delegação de observadores. Queremos transformar representatividade em poder real de decisão”, disse. “O futuro que queremos é aquele em que nossos biomas continuem ricos e biodiversos, e não transformados em desertos de monoculturas. Que a COP30 seja a COP da escuta, da reparação e da virada — começando por nós, aqui e agora.”