Oportunidades para afrodescendente ainda é desigual

As desigualdades sociais entre brancos e negros no Brasil centralizaram as discussões de mais um módulo do curso Práticas Discursivas de Igualdade Racial promovido pelo Programa Conexões de Saberes da Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Durante a exposição da professora Marcela Carvalho Martins Amaral, da UFERSA Angicos, ao abordar o tema Movimentos sociais e desenvolvimento no semiárido na perspectiva de gênero, ficou claro que a situação de negligência com a mulher negra ainda é mais grave.

“As mulheres negras estão numa situação mais precária, mais fragilizada, que as mulheres brancas”, ressaltou, acrescentando que ser mulher é concorrer em desigualdade com os homens. Para Marcela ainda prevalece no nosso país a divisão do trabalho produtivo e reprodutivo, onde cabe ao homem o produtivo, o público e o valorizado e, a mulher, o trabalho reprodutivo, privado e desvalorizado. A professora também alertou para a dupla jornada de trabalho a qual as mulheres que trabalham fora são submetidas.

A diferença reflete diretamente na valorização do trabalho com a questão salarial, cabendo ao sexo feminino renda mais baixa. Essa realidade pode ser constatada ao analisar o salário entre homens e mulheres. Enquanto um homem branco tem renda média de R$ 1.200,00, uma mulher de cor branca ganha em média R$ 700,00. Quando se trata da população afrodescendente a discrepância é ainda maior com o homem negro ganhando em torno de R$ 600,00 e a mulher R$ 400,00. Quando o assunto é desemprego o percentual entre a população de cor negra é bem maior que o de cor branca.

Outra questão diz respeito aos anos de estudos da população com idade acima de 16 anos. Enquanto o homem de cor branca tem 8.4 anos de estudo, o de cor negra possui 6.3. Já com relação às mulheres os anos de estudos são de 9.3 para as brancas e de 7.4 para as mulheres negras. Os dados são de 2007.

A questão profissional também foi enfocada pela professora ao apresentar as profissões com maior predominância masculina, como por exemplo, as engenharia (79% homens), possuírem melhores salários, bem diferente da pedagogia (91% mulheres), com salários muito inferiores. “A diferença também é evidente dentro de uma mesma categoria profissional, levando a ocultação das mulheres nos espaços públicos”, ressaltou Marcela, acrescentando que ainda hoje “o status de cientista é exclusivamente masculino”.

Para a professora Marcela Amaral a escola reproduz essa desigualdade. Citando Pierre Bourdieu, a violência simbólica reflete a reprodução cultural e social dos valores das classes dominantes e das desigualdades sociais. “A exclusão das mulheres é baseada particularmente na fisiologia e psicologia feminina”, frisou.

Essa realidade, afirmou a professora, só mudará com a alteração das relações sociais a partir da percepção dos direitos das mulheres. A auto-organização em grupos, a autonomia feminina e mudanças nas relações de gênero são alguns dos caminhos apontados pela professora Marcela Amaral. Outra questão importante diz respeito à participação política e a autonomia econômica que podem levar a consciência do poder de intervenção das mulheres.

Fonte: Ufersa

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