Para enviada dos EUA, Brasil pode liderar em direitos humanos

Por: CLAUDIA ANTUNES


Os EUA não vão dizer ao Brasil como agir em relação a violações dos direitos humanos no exterior, mas, como “líder global”, o país pode ser “um exemplo” e ajudar outras nações do Sul a “ir para a frente” nesse tema, disse ontem a subsecretária de Estado dos Estados Unidos para Democracia e Questões Globais, Maria Otero. Nascida na Bolívia, Otero falou à Folha depois de participar do 5º Fórum Urbano Mundial, no Rio, e antes de viajar a Brasília, para discutir aquecimento global e o memorando sobre participação feminina recém-assinado entre os dois países. Abaixo, trechos.

 

FOLHA – Brasil e EUA têm posições divergentes sobre direitos humanos, em casos como Cuba e Irã. Isso afeta a relação?
MARIA OTERO –
A relação bilateral é muito forte e multidimensional, trabalhamos em muitas áreas numa parceria de iguais. Não creio que tenhamos posições diferentes sobre direitos humanos em si -pode ser mais na relação que cada um tem com outros países que violam direitos humanos, e isso não precisa afetar a relação.
FOLHA – Os EUA às vezes são acusados de ser seletivos nos pronunciamentos sobre direitos humanos. O Brasil, de ser complacente com violações. Há um meio-termo?
OTERO –
Os governos têm de estabelecer a moldura em que pretendem trabalhar e tentar segui-la. No governo Obama, há uma ruptura clara com a gestão anterior -o esforço para fechar Guantánamo foi o primeiro exemplo de mudança. Em dezembro, a secretária [de Estado Hillary] Clinton expôs as principais linhas sobre o papel que os direitos humanos devem ter na política externa, definindo um “engajamento com princípios”. Tentaremos aplicar a Declaração Universal dos Direitos Humanos a todos os países e situações, incluindo os EUA, que não têm de nenhum modo desempenho perfeito. Por fim, tentaremos nos basear na verdade, na informação que existe.
FOLHA – O governo Obama divulgou nota dura contra as violações em Cuba. Isso afetará os contatos entre os dois países?
OTERO –
Não há dúvida de que os EUA vão apontar abusos de direitos humanos nos países onde veem que eles existem. Ao mesmo tempo, há esforços para uma relação que crie algumas aberturas entre EUA e Cuba. O governo continuará tanto a criticar quanto a seguir adiante.
FOLHA – Os EUA gostariam que o Brasil use sua influência em Cuba para pressionar o governo cubano nesse tema?
OTERO –
O Brasil se tornou um líder global, um “player” nos níveis mais altos. Foi capaz de se desenvolver em ampla gama de aspectos, de um modo que pode ser um exemplo para alguns outros países. Não creio que os EUA jamais vão dizer ao Brasil o que fazer ou não, mas um dos papéis que o Brasil pode desempenhar é o de atuar como “intérprete”, por assim dizer, entre países. É um país do Sul, que entende a realidade de outros do Sul e que ratificou algumas dessas questões. Pode ter um papel nessa interpretação de diferentes realidades e numa aproximação que ajude outros a ir para a frente.

FOLHA – Como avalia a democracia na América Latina?
OTERO –
A trajetória da democracia na região é muito boa. A maioria dos países está respeitando o Estado de direito, suas Constituições, elegendo líderes que no passado sofreriam muita oposição, por exemplo, no Uruguai [o ex-guerrilheiro José Mujica]. Isso mostra como se avançou -alguns se lembram dos anos 70, dos golpes e da repressão daquele tempo.

 

 

Fonte: Folha de S.Paulo

 

 

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