Para Carlos Moore, libertar presos é positivo, mas é só um passo

 

Washington/EUA – O etnólogo e cientista político Carlos Moore – que vive em Salvador exilado pelo regime cubano por razões raciais – considerou positivo o passo dado pelo Governo de Cuba ao liberar 52 presos políticos – na sua maior parte negros – por meio de negociações com a Igreja Católica e gestões do Governo espanhol.

 

Moore está no momento nos EUA fazendo palestras, de onde concedeu, por e-mail, entrevista, ao editor de Afropress, jornalista Dojival Vieira.

 

“A libertação prevista de 52 opositores políticos gravemente doentes é, segundo a minha perspectiva, algo que merece ser avaliada como “um passo” na boa direção. Se esse “passo” pode ser consolidado, então poderia ir mais longe e se converter num processo. Estamos querendo um processo de democratização. Mas, para chegar lá há que começar em algum lugar”, afirmou.

 

Moore atribuiu o gesto do regime à luta travada pela oposição, majoritariamente negra e, em especial, ao jornalista Guilhermo Fariñas, que se manteve em greve de fome por 135 dias. Tão logo o Governo anunciou a libertação dos presos políticos, Fariñas encerrou a greve, na última quinta-feira (08/07).

“Pessoalmente, eu acho que essa medida de libertação, obtida graças à determinação ferrenha de nosso irmão, Guillermo Fariñas, abre um pequeno espaço que haverá que ampliar. Acho que é possível ampliá-lo e passar do “passo” ao processo. E isso será longo e difícil, mas é possível”, acrescentou.

 

Em fevereiro, o operário negro, Orlando Zapata, morreu, após 85 dias de greve de fome, ampliando a onda de protestos pelos direitos humanos na Ilha, que teve enorme impacto na opinião pública internacional.

Segundo o cientistia político, a etapa de passagem do “passo” para o “processo” “será longa e difícil”.

 

Risco de morte

Apesar de ter botado fim à greve, Moore disse que o estado de Farinãs, de 48 anos, é delicado.

 

“O estado de saúde de Fariñas é ainda grave. Ele pode, efetivamente, falecer a qualquer momento, pois tem suportado uma greve de fome de 135 dias, sem beber nem comer absolutamente nada. É prodigioso que seu organismo ainda esteja suportando essa prova terrível. Fariñas é um homem corajoso, determinado e altamente ético. Ele tem se convertido num verdadeiro herói da Causa do povo cubano pela democratização. Estou contente que ele tenha encerrado a greve de fome, pois nenhum cubano queria que um dirigente tão importante se imolasse”, afirmou.

 

Moore contou que pouco depois do jornalista ter iniciado a greve, ele próprio lhe telefonou e tentou dissuadi-lo da idéia, sem sucesso. “Ele tem uma determinação de ferro. É um verdadeiro dirigente para o futuro de Cuba. Necessitamos de seres humanos desse calibre para a reconstrução moral de Cuba”, acrescentou.

 

Em longa entrevista à Afropress, em maio passado, Moore – que foi assessor do líder negro norte-americano Malcolm X – afirmou que a oposição ao regime hoje é majoritariamente negra e tem como base de sustentação a juventude, com o Hip Hop, e as religiões de matriz africana, com a Santeria, como é chamado o candomblé na Ilha.

 

Tensão persiste

Moore enfatizou ainda que a situação política e social em Cuba continua muito tensa e que qualquer medida que tenha como conseqüência baixar um pouco essa tensão “é, a meu ver, algo positivo”.

“Não sou daqueles que querem um confronto violento para mudar a situação. Pelo contrario, me oponho a toda perspectiva de violência. A violência só pode arranjar os interesses das forças de direita que querem que Cuba volte a ser o pesadelo que ela foi antes da Revolução. A direita exilada nos Estados Unidos e na Europa, quer uma situação tipo Tienamen. Isso não deve acontecer de jeito algum. É por isso que há que encorajar o regime cubano a compreender que há só uma saída que preserve aquilo de bom que a Revolução trouxe, e que obstaculize um retorno ao passado pré-revolucionário: a democratização da sociedade cubana, em todos os sentidos”, concluiu.

 

Fonte: Coletivo de Entidades Negras

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