Fui criada com a televisão. Em preto e branco e com antena em cima do telhado. Os futurólogos de antão falavam que um dia as pessoas poderiam gravar os programas para assisti-los quando quisessem. Eu e minha irmã Cláudia – ela com nove anos, eu com sete – ficávamos boquiabertas quando ouvíamos tal profecia.
Por Fernanda Pompeu no Yahoo
Sou da época da vitrola de móvel. Dispositivo que tocava discos de vinil. Algumas traziam gravada, em letras douradas, a frase: alta fidelidade. Nada a ver com matrimônios, mas com som de qualidade. Bem depois apareceriam os equipamentos 3 em 1. Tocavam fita cassete, rádio e CD. Um prodígio da tecnologia.
Também sou uma pessoa de hoje. Uso computador, smartphone, tablet. Vejo filmes no YouTube e infindáveis séries no Netflix. Transito pelo Face, Twitter, Instagram. Escrevo crônicas para o Yahoo e para outros. Troquei o substantivo redatora pelo de blogueira. Chamo táxis pelo aplicativo, dou notas para os motoristas.
Saltei da realidade analógica de válvulas para a digital de transistores. Um privilégio ter vivido essa transição tecnológica radical. Os estudiosos chamam pessoas como eu de imigrantes. Isso para nos diferenciar dos chamados nativos – a geração que já nasceu com a mão no mouse e os polegares no celular.
Mas a tecnologia é apenas a casca da árvore, a superfície do oceano, a cor na pele. Ela é quase nada se comparada com a grande revolução das formas de narrar, das maneiras de contar surgidas a partir da internet. O espantoso está na transformação dos conteúdos. São eles que tiram o sono dos travesseiros da minha geração.
A gente aprendeu a escrever e a editar. Anos a fio para coordenar semânticas e sintaxes. Décadas inteiras no treino de enxugar frases, cortar o excesso, significar. Mas eis que chegou a roda viva e trouxe a pergunta fundamental: será que todo esse esforço basta? Qual aula a gente cabulou?
Pois no presente, me parece claro, precisamos aprender novas formas de narrar. Contar eternas histórias de amor, morte, lealdade, traição de jeitos novos. Formas que caibam na telinha do smartphone, que acompanhem a velocidade das avenidas virtuais. O mundo é o mesmo velho mundo. As pessoas é que estão diferentes.