Para pesquisador, leis precisam ser mais duras contra o racismo

 

 

Um protesto objetivo, imediato, espontâneo e irônico. É dessa forma que especialistas definem a atitude do lateral direito da seleção brasileira Daniel Alves. O jogador comeu uma banana jogada por torcedores do Villareal, em partida disputada no domingo, 27, pelo Campeonato Espanhol, quando o Barcelo venceu por 2 a 1. A atitude foi pouco antes da cobrança de um escanteio.

Para o professor do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós Graduação de Sociologia da UFSCar, Valter Roberto Silvério, a atitude imediata do jogador foi positiva, entretanto, o ato não resolve a gravidade do problema. “A repercussão tem uma lado positivo, significa que as pessoas de alguma maneira não querem o racismo, parte delas se sensibilizam no sentido de dizer que essa atitude não é admissível. Agora, do ponto de vista pedagógico o ato não equaciona o problema, as crianças negras irão continuar sofrendo bullying e a violência psíquica nas escolas, nas ruas, tudo em função do que representa sua cor”.

Silvério afirma que o racismo chega a ser mais grave do que qualquer tipo de preconceito. “Racismo tem a ver com você considerar uma outra pessoa ou um outro grupo inferior do ponto de vista de suas capacidades. O preconceito  de alguma maneira todos nós temos de alguma coisa, agora o racismo  é uma forma da gente ver o mundo”.

O professor disse que o racismo existe em todos os lugares do mundo, porém, para ele isso é um problema grave, uma espécie de doença mundial que deve ser combatida. “Já passou da hora dos países colocarem o assunto nas grades curriculares, é fundamental que as crianças aprendam cedo sobre o mundo que elas vivem, sobre as diferenças das pessoas, das culturas, isso é fundamental. O sofrimento psíquico dessas crianças é imenso”.

Outro problema grave é a falta de punição para quem comete esses atos. No caso do jogador Daniel Alves houve uma punição severa devido à repercussão nas redes sociais. Na ocasião, o torcedor acabou sendo banido do estádio. “É importante que as autoridades educacionais e autoridades da área de direito se preocupassem mais em medidas educativas e  punitivas efetivas para quem pratica esse ato. No Brasil, infelizmente temos dificuldade  de registrar um Boletim de Ocorrência caracterizado como racismo. Isso é muito grave, pois fica difícil punir quem pratica esses atos”, relatou o professor.

MOBILIZAÇÃO

O Presidente do Conselho da Comunidade Negra de São Carlos, Caio Gustavo dos Santos, vê a atitude do jogador Daniel Alves de forma objetiva e irônica. “O próprio jogador comentou que vive com isso há mais de 11 anos. O que ele fez foi ignorar e rir da atitude do torcedor”.

Já para ele, a mobilização nas redes sociais teve mais a ver com uma campanha publicitária do que com um real ato contra o racismo. “Foi puro oportunismo de uma agência de publicidade Essa é uma campanha a qual eu não poderia aderir por vários motivos, mas o mais simples deles é: Não sou macaco. Sou uma pessoa, um ser humano”.

Para Caio, a ação também não resolve a gravidade do problema. “Só o negro sabe o sofrimento e a dor de carregar insultos apenas pela sua cor. O mundo precisa punir efetivamente quem pratica esses atos, não somente pelo racismo, mas por qualquer tipo de preconceito”.

O presidente ainda afirma que os casos de racismo dentro dos estádios já acontecem há anos e para ele faltam punições mais severas, principalmente no Brasil. “Antigamente não se aceitavam negros em times de futebol no nível nacional, inclusive, quando o Pelé veio na cidade de Jaú ele foi impedido de jogar no estádio apenas pelo fato de ser negro. Essas atitudes precisam ser combatidas”.

Questionado se considera São Carlos uma cidade racista e preconceituosa, o presidente do Conselho da Comunidade Negra da cidade foi taxativo. “Com certeza. Preconceituosa e racista, muito racista, de todas as maneiras e em todos os lugares”.

 

 

 

 

Fonte: Jornal Primeira Página

 

+ sobre o tema

Uruguai: governo diz que número de abortos diminuiu após descriminalização

Segundo o governo, os dados preliminares apontam entre 300...

Nota da CNAIDS ao Ministro Alexandre Padilha

AoExmo. Sr.Alexandre PadilhaMinistro de Estado da Saúde - Ministério...

GO: ex-pastor é preso por estupro e cárcere privado da mulher por 6 anos

Um ex-pastor evangélico de 45 anos foi preso na...

Carta Aberta contra a chamada para a II Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial

Vimos manifestar publicamente à sociedade curitibana, assim como ao...

para lembrar

O apoio turco às vítimas do racismo na Alemanha

Depois dos atentados racistas contra a famíla Yigit, na...

Denúncias de racismo abalam Departamento de Bombeiros de NY

O Departamento de Bombeiros de Nova York (FDNY), uma...

Comissão diz que não houve ato ilícito da Justiça ao algemar advogada negra

Desembargador também inocentou a juíza que pediu a prisão...

‘Lá nunca mais volto’ – SEU JORGE sofre racismo na Itália – áudio

Entrevista concedida ao produtor Van Damme, da Beat98 Seu...
spot_imgspot_img

Quanto custa a dignidade humana de vítimas em casos de racismo?

Quanto custa a dignidade de uma pessoa? E se essa pessoa for uma mulher jovem? E se for uma mulher idosa com 85 anos...

Unicamp abre grupo de trabalho para criar serviço de acolher e tratar sobre denúncias de racismo

A Unicamp abriu um grupo de trabalho que será responsável por criar um serviço para acolher e fazer tratativas institucionais sobre denúncias de racismo. A equipe...

Peraí, meu rei! Antirracismo também tem limite.

Vídeos de um comediante branco que fortalecem o desvalor humano e o achincalhamento da dignidade de pessoas historicamente discriminadas, violentadas e mortas, foram suspensos...
-+=