Para pesquisadora, abolição da escravatura ocorreu “só na teoria”

RBA – A pesquidadora Cláudia Patrícia de Luna Silva, diretora executiva da ONG Elas por Elas, vozes e ações das mulheres, a abolição da escravatura, comemorada em 13 de maio, “se deu de forma teórica”.

 

Passados 122 anos da assinatura da lei áurea pela princesa Isabel, a data está longe de ser considerada como um momento de comemoração por pesquisadores e ativistas do movimento negro.

 

Cláudia analisa que o peso do 13 de maio para a população negra é “nenhum”. “Os negros dormiram escravos e acordaram libertos, sem nenhuma política pública de inclusão”, ressalta Cláudia.

 

A historiadora Sandra Santos conta que nos primeiros 50 anos depois da assinatura da Lei Áurea, em 1888, o movimento negro até considerava a data um momento de aglutinação e festa. Mas a partir da década de 1970 e depois de vários estudos, a data passou a ser considerada “elitista”. “A abolição da escravatura foi uma espécie de concessão da elite branca”, avalia.

 

“Com a apuração das pesquisas, começa-se a descobrir que uma porcentagem ínfima dos negros na época eram ainda escravos. A grande maioria já estava liberta. Essa assinatura da lei Áurea foi uma medida de liberação da elite proprietária de terra para outros investimentos que faziam mais sentido na época”, ensina Sandra.

 

A diretora da ONG Elas por Elas cita que grupos étnicos que vieram ao Brasil para substituir a mão de obra escrava – como alemães, italianos e japoneses – receberam incentivos financeiros para viver no país. Enquanto os negros permaneceram sem nenhum auxílio ou política de inclusão.

 

Segundo Cláudia, a verdadeira data de referência histórica negra é 20 de novembro, em alusão a Zumbi dos Palmares. “Em 20 de novembro é que a gente faz uma avaliação de nossas conquistas, lutas”, explica.

Mudança

A realidade de discriminação e desigualdade apenas começou a mudar nos últimos anos. “Melhoraram as condições de vida e trabalho para os negros, mas a defasagem ainda é muito grande”, detecta Cláudia.

 

Segundo a militante, mecanismos como o sistema de cotas nas universidades contribui para aumentar a renda e mudar a realidade da população afro-descendente. “A partir da escolarização da população negra, conquista-se maior ascenção às classes sociais, ao poder e ao próprio consumo”, diz.

 

De acordo com Sandra, a população está começando a se inteirar e acessar as leis e direitos, mas a “situação ainda não é confortável”. Como exemplo das dificuldades da população afro-descendente ela cita a morte dos jovens motoboys na última semana. “Basta ver o que aconteceu dias atrás: o massacre dos jovens motoboys pelas forças do Estado, que deveriam garantir a segurança. De repente você tem de provar que merece viver na sociedade e ser protegido pelas forças que representam uma elite”, condena.

 

A historiadora também critica o conteúdo dos livros distribuídos nas escolas públicas do estado de São Paulo. “A construção histórica ainda está impregnada do olhar europeu”. Desprezar a história da África e do negro é prejudicial à população brasileira, acredita Sandra. Apesar disso, “a educação é um recurso que vai nos ajudar a construir um futuro de igualdade”, aposta Sandra.

 

 

 

Fonte: Diario Liberdade

+ sobre o tema

Bolsista do ProUni convida Lula para festa de formatura

A estudante de jornalismo Rita Correa Garrido, de 26...

UNEafro abre inscrições para cursinho

UNEafro abre inscrições para cursinho VAGAS ABERTAS 2017 Você quer ser...

Universitários brasileiros são brancos, moram com os pais e estudam pouco

Pesquisa traçou perfil do estudante que cursa os últimos...

Como a Academia se vale da pobreza, da opressão e da dor para sua masturbação intelectual

Texto originalmente publicado em RaceBaitR como “How Academia Uses...

para lembrar

Obra infanto-juvenil em inglês aborda preconceito racial

Lançamento do livro “The Black Butterfly” (A borboleta Preta), de...

Educação física, arte, sociologia e filosofia ficam no Ensino Médio

A Câmara dos Deputados decidiu incluir na reforma do...

Nova Zelândia oferece bolsas de estudo para brasileiros; veja como participar

Quem sempre teve o sonho de estudar no exterior,...

A crítica de Marcien Towa às doutrinas de identidade africana

O presente trabalho propõe tematizar a crítica que o...
spot_imgspot_img

Educação dos ricos também preocupa

É difícil imaginar o desenvolvimento de uma nação sem a participação ativa dos mais abastados. Aqueles que, por capricho do destino, nasceram em ambientes...

Inclusão não é favor

Inclusão não é favor. Inclusão é direito! Essa é a principal razão pela qual ações voltadas à promoção da equidade racial devem ser respeitadas, defendidas e...

Promessa de vida

O Relatório do Desenvolvimento Humano, divulgado nesta semana pelo Pnud, agência da ONU, ratificou a tragédia que o Brasil já conhecia. Foi a educação que nos...
-+=