Mitos e preconceitos

Lia Maria dos Santos é economista e artista plástica. Atualmente, está desempregada mas diz que participa de várias entrevistas

 

Mudar a trajetória dos negros no mercado de trabalho levará ainda muito tempo. Os 122 que separam o País do tempo em que eles eram escravos ainda não foram suficientes para colocá-los próximos da população branca no mercado de trabalho. Os dados mais recentes que traçam esse cenário são de 2008.

 

Naquele ano, diferentes pesquisas mostraram que o negro ainda ocupa menos cargos de chefia e mais vagas para trabalhos menos qualificados. De acordo com o Instituto Ethos e o Ibope, apenas 3,5% dos trabalhadores afrodescendentes eram chefes nas maiores empresas brasileiras.

 

O Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas, feito há dois anos, revelou que os brancos ocupavam 94% dos postos executivos. A pesquisa trouxe uma série histórica, já que também havia sido aplicada em 2003 e 2005, cujo resultado demonstra pouca evolução na participação dos negros nas vagas de chefia: de 1,8% na primeira edição para 3,5% em 2007.

 

Nas conclusões do estudo, os pesquisadores evidenciam um “desequilíbrio” entre a representatividade dos afrodescendentes na população (49,5%) e nos quadros de funcionários dessas grandes empresas (25,1%). “Há uma inequívoca sub-representação dos negros nas grandes empresas brasileiras. Como no caso das mulheres, observa-se um afunilamento hierárquico: quanto mais alto o cargo, menor a participação de negros”, escrevem os autores na publicação.

Lia dos Santos, economista e artista plástica: “Para a gente romper barreiras, precisa enfrentar mitos e preconceitos.”

Lia Maria dos Santos, 30 anos, enfrentou inúmeros preconceitos, mesmo sendo filha de funcionários públicos do Itamaraty. “Dá o estalo que o racismo existe quando se percebe a discriminação no jeito que te olham na loja ou no shopping sem motivo nenhum”, diz. Lia morou na África quando era criança. E em Cuba na adolescência.

 

Artista plástica formada pela UnB, Lia também estudou economia, está fazendo mestrado em políticas publicas na área de educação para mulheres negras, fala vários idiomas e já atuou como consultora. No momento, está desempregada. Já participou de diversas entrevistas de emprego desde que voltou de um programa da Organização das Nações Unidas em Genebra, Suíça.

“Cheguei ao Brasil e fui trabalhar em telemarketing ganhando R$ 1,5 mil. Fiquei uma semana e saí. Não dá”, lamenta. Lia dá palestras em escolas e organizações para tentar quebrar as barreiras do preconceito e mostrar que as diferenças existem. “Para a gente romper barreiras, precisa enfrentar mitos e preconceitos.”


Racismo

Danielle Valverde, especialista de educação do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) Brasil e Cone Sul, afirma que o racismo estrutura as relações sociais no Brasil. “Isso persiste para além da escravidão. Quando pegamos os dados estatísticos, encontramos desigualdades em educação, situação econômica, saúde. No mercado de trabalho, os negros têm ocupações de menor prestígio e recebem os menores salários.”

 

Estudo divulgado em 2008 pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que, nos últimos quatro anos, houve um crescimento muito pequeno na quantidade de negros em postos de direção e gerência. Em 2004, o índice era de 5,7%. Em 2008, foi para 6%.

 

Em Salvador, onde a população negra é majoritária (85% da população economicamente ativa), os brancos ocupam três vezes mais postos de comando que os negros. A maioria dos trabalhadores negros está em funções que não exigem qualificação profissional.

 

Para a especialista do Unifem, é preciso conjugar diferentes ações para mudar a realidade: punir os crimes de racismo e adotar políticas universais. “As ações afirmativas são indicadas por diferentes países como solução para dar oportunidades de acesso à educação, à saúde e ao trabalho para populações historicamente discriminadas. Se fossem de fato políticas de estado, essa desigualdade diminuiria”, afirma Danielle.

Fonte: Ultimo Segundo

 

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