Passeata contra violência contra a mulher será realizada em Irati

Evento acontece nesta segunda-feira, dia 06, a partir das 17 horas

Regianas, Paulas, Marias, Joanas…. Poderia ter sido qualquer uma, pois a violência contra as mulheres acontece diariamente. Em Irati, nas últimas semanas, alguns destes acontecimentos foram noticiados, como o caso de uma mulher que foi assassinada e outras três mulheres que foram vítimas de estupro. Fora estes acontecimentos, muitos outros casos de violência acontecem diariamente e não são noticiados.
Diante desta situação, diversas entidades realizarão em conjunto com a comunidade iratiense uma passeata pelas ruas centrais da cidade nesta segunda-feira, dia 06. A passeata está programada para as 17 horas. Os participantes passarão pelas ruas centrais de Irati, seguindo para a Câmara Municipal de Vereadores.
Em entrevista à Najuá, as integrantes do movimentos intitulados “Roda Pagu” e “InspiraSUS”, Karina Schiavini e Fabíola Souza, contam que a mobilização teve início a partir do momento em que o primeiro dos três casos de estupro citados foi noticiado.
“A gente se mobilizou e começou a discutir estas questões. Quando foi noticiada a morte desta mulher [Regiana Coltro Tohouca, de 33 anos, que foi assassinada pelo ex-marido na comunidade de Lageadinho no último dia 18] e esses outros três estupros que aconteceram, a gente pensou nesta mobilização por saber que estes casos acontecem e muitos deles nem são notificados”, ressaltou.
Karina, que é estagiária de Psicologia no Centro de Referência Especializada em Assistência Social – CREAS, destaca que muitas mulheres não sabem que podem denunciar casos de violência e nem reconhecem a violência do estupro como algo de que elas podem recorrer, e que muitos destes casos são denunciados mas não são divulgados. “Aqui em Irati tem muitos casos que acontecem, a gente acompanha muitas mulheres que são vítimas de estupro, de violência doméstica e as políticas públicas da nossa cidade não estão dando conta disso”, pontuou.
Para Fabíola Souza, a sociedade civil é responsável por selecionar as políticas públicas voltadas para a violência contra a mulher, num sentido de ressaltar a importância das denúncias e da participação em movimentos, como a passeata que vai ocorrer em Irati.
“Isso faz a diferença para pressionar o poder público a promover ações voltadas para a mulher, que são escassas em Irati. A rede tem feito o que pode, por isso até o coletivo InspiraSUS se importa com a causa, está em solidariedade e apóia as mesmas causas que a PAGU, porque a violência contra a mulher chega na rede de saúde, na rede de assistência, nas escolas, a rede toda sabe da violência contra a mulher”, afirmou Fabíola.
Ela destacou ainda a importância de se fazer um trabalho de base no sentido de mostrar o que é a violência contra a mulher. “Hoje em dia não se tem a concepção, por exemplo, que a mulher não é obrigada a ter relações sexuais com o marido. Isso é um tabu na nossa sociedade e a gente precisa dar visibilidade para isso”, ressaltou.
Segundo Karina, o número de casos de violência contra a mulher atendidos em Irati é muito grande, chegando a cerca de 150 por mês, sendo que muitos deles não são denunciados. Fabíola destaca a importância da realização deste trabalho de base.
“As vezes as pessoas têm concepções diferentes sobre o que é esta violência. Elas não entendem que é um estupro também ser obrigada a manter relações sexuais com o marido, e a gente entende que isso também é uma violência. Tudo depende do que a pessoa entende como violência e não tem conhecimento do que a rede tem e de como ela pode agir e onde procurar apoio”, pontuou Fabíola. Além disso, vergonha e medo também são fatores predominantes para que a mulher não denuncie casos de violência doméstica.
Outro fato que acontece com muita freqüência em Irati é a violência dentro das próprias instituições. “As mulheres as vezes vai denunciar, mas acaba culpada pela violência que ela sofreu. Se ela continua com o marido, é porque gosta de apanhar, e essas coisas acontecem dentro da própria instituição. Então, além da mulher ser violentada dentro de casa, quando ela vai fazer a denúncia, acaba sendo desencorajada a fazê-lo”, ressaltou Karina.
De acordo com Fabíola, o que se busca mostrar é que os movimentos não estão alheios a estas notificações de estupro e violência. “O que a sociedade tem a ver com isso? O machismo se reproduz pela gente, e nós temos que nos responsabilizar por isso e o poder público tem que se responsabilizar pelo que eles estão oferecendo ou não para a população”, pontuou.
Irati assina Termo de Combate a Violência contra a Mulher
Irati e mais 13 municípios do Paraná assinaram em 2013 o Termo de Combate a Violência contra a Mulher. Com isso, o município poderia receber verbas federais para o combate a violência através do programa “Mulher: viver sem violência” para manter projetos na área.
De acordo com Fabíola, estes programas não estão sendo realizados em Irati. Ela questiona também sobre os repasses que deveriam ser feitos para o município, o que, segundo Fabíola, não está acontecendo.
“Inclusive uma das nossas grandes questões é o por quê de Irati não ter uma Secretaria da Mulher, um setor dentro da própria Delegacia para acolher as denúncias de violência contra a mulher. Isso é um preparo diferente quando se trata de uma sociedade que é machista”, finalizou.
Para a confecção dos cartazes que serão utilizados na passeata, as pessoas que quiserem podem enviar sugestões de frases para a roda PAGU, através da fanpage da instituição no Facebook.
A passeata está programada para esta segunda-feira, 06, com concentração na Praça da Bandeira e saída as 17 horas, terminando na Câmara Municipal de Vereadores de Irati.

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