Sérgio Storch estaria seguramente na Avenida Paulista, no próximo sábado, contra o fascismo. Passado dos 60, conservava ânimo juvenil. Animava. Inventava, às vezes atabalhoado, de tanta energia. Era um criador político, sempre inquieto.
Encontrei-o incontáveis vezes. Creio que o conheci por volta da virada do século, quando buscava erguer, junto com brasileiros palestinos e brasileiros judeus (como ele próprio), o movimento Shalon Salam Paz.
Mas ele reaparecia sempre. Arquiteto da informação, sonhava com uma rede que articulasse não só os sites da mídia alternativa, mas incontáveis iniciativas dos movimentos populares. Seus intentos de articular a esquerda da comunidade judaica no Brasil, e levá-la a atuar sem reservas contra a ocupação da Palestina, multiplicavam-se. Ao lançá-las, mantinha-nos informados sobre movimentos semelhantes em todo o mundo, que acompanhava atento. Revoltava-se, em especial, contra os judeus conservadores, que articulavam o que há de pior na política norte-americana para manter Israel como fortaleza do Império no Oriente Médio.
Nos últimos tempos, porém, havia se voltado para o Brasil, cada vez mais preocupado com o avanço da ultradireita. Ao invés de paralisá-lo, esta angústia projetava-o adiante. Foi um dos idealizadores da Comissão Arns pelos Direitos Humanos e não descansou enquanto não a viu de pé. Parte de inúmeras ações de que participou foi relatada por ele próprio, numa série de textos para Outras Palavras.
No momento em que a luta contra o fascismo parece mais forte e capaz de chegar à vitória, perdemos Sérgio Storch para uma pandemia alimentada pelo negligência e sabotagem aberta dos bolsonaristas. Mas eles serão derrotados. E quando caírem, pesarão sobre eles, mordazes, o riso inteligente e a vontade inquieta e incansável de Sérgio. Que estarão conosco sábado, na avenida Paulista e em todo Brasil; e conosco seguirão até que o Brasil se liberte e os genocidas, desta vez, não fiquem impunes.
Morto, Sérgio Storch vive — e trama.
Foto em destaque: Reprodução/ Outras Palavras