Perfil de estudantes de universidades federais indica maioria de negros

Estudantes provenientes de escolas públicas e quantidade de mulheres também está acima de 50% nas instituições

Por Luiz Calcagno, do Correio Braziliense 

GETTY IMAGES

O número de universitários negros em universidades federais e de centros federais de educação tecnológica ultrapassou o de estudantes brancos. É o que mostra a quinta edição do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação. O trabalho revelou que jovens negros representam 51,2% do total de estudantes de instituições federais de ensino. O valor, no entanto, ainda está aquém do levantado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Penad), do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística, que aponta que, na população brasileira, o número de negros é 60% maior que o de brancos.

Além do aumento no número de estudantes negros, concluiu-se que 70,2% dos matriculados vem de famílias que recebem entre 1 e meio e meio salário mínimo. A pesquisa também revelou que 16,75% recebem mais de um e meio a três salários mínimos, de cinco a sete salários, 2,8%, de 10 a 20, 0,57% e mais de 20 salários, 0,06. Em 1996, o número de estudantes que recebiam meio salário mínimo por família era de 3,3%. Esse número caiu para 0,8% em 2003, 0,5 em 2010, e subiu para 31,97 em 2014, e caiu novamente para 26,6% em 2018.

O trabalho foi desenvolvido pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (Andifes), e apresentado junto com um painel digital da associação que mostra os cortes do governo federal em verbas para as universidades do país. A pesquisa foi feita via internet, com divulgação em todas os campi de federais entre fevereiro e junho de 2018. Estudiosos conseguiram que 35,34% dos 1,2 milhões de matriculados respondessem ao questionário.

Quilombolas
Do total de negros, em 2014, 4.231 eram pretos quilombolas e 88.009, não-quilombolas. Esse número subiu respectivamente para 10.747 e 132.852 em 2018. Isto é, o número de quilombolas mais que duplicou. A quantidade de pardos também aumentou. No mesmo período, foi de 354.688 para 470.227. Indígenas aldeados, por sua vez, foram de 2.329 para 4.672, e não aldeados, de 3.685 para 6.64.

Cotas
Os ingressos em universidades por concorrência ampla e por cota se equilibrou no correr dos anos. Em 2005, 96,9 dos estudantes entrou pela primeira modalidade e apenas 3,1% pela segunda. Em 2018, essa proporção ficou em 51,7% para 48,3%. A quantidade de universitários provenientes de escolas públicas também aumentou. Esses estudantes representam 64,7%. Desse total, 60,4% estudou exclusivamente em escola pública. Em 2013, esse total era de 37,5%, subiu para 44,8 em 2010, e 60,16 em 2014.

Assitência estudantil
Atualmente, 30% dos universitários participam de algum programa de assistência estudantil. Desse total, 17,3%, de assistência em alimentação, seguido de transporte, 8,2% e moradia, 7,5% e 3% precisam de atendimento psicológico. Segundo o estudo da Andifes, a verba para atender esses estudantes está defasada. Os números apontam os resultado de 15 anos de políticas de cotas e democratização do ensino superior.

Mulheres na universidade

Outro dado interessante é que o número de mulheres nos cursos superiores cresce acima da média da população. Em 1996, por exemplo, eram 51,4% dos universitários e 51,2% da população. No ano passado, 54,6 dos estudantes e 51,1 dos brasileiros. Ainda segundo o levantamento, “na faixa etária “17 anos e menos” estudantes do sexo feminino perfazem 59%”, e “Na faixa etária “18 a 24 anos” estudantes do sexo feminino perfazem 56,5%” do total. Além disso, 48,1% dos matriculados se identificaram com mulher cisgênero, 40,1% homem cis, 0,1%, homens trans e 0,1%, mulher trans (4,5% dos entrevistados preferiram não responder essa pergunta e 3,7% não quiseram se classificar em uma das modalidades).

Interessados podem conferir mais dados no site da Andifes.

 

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https://www.geledes.org.br/afinal-quem-estuda-nas-universidades-federais/

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